Entrevista aos Basset Hounds
No dia 26 do passado mês estivemos à conversa com os Basset Hounds. Foi com uma mistura de pégasus, hipogrifos, asneiras e uma série de televisão intitulada "Os Sensualões" que passámos um belo serão com esta banda. Infelizmente não chegámos a tempo de apanhar o António (guitarrista) pois tinha tido um problema de cordas que precisava de solução mas acabámos por entrevistar Afonso (bateria), Miguel (voz e guitarra) e Zé (baixo).
W&L: Como é que vocês se conheceram e decidiram formar a banda?
Miguel: Pronto, isto começa com o António (guitarra) – aquele rapaz que está sempre a partir cordas – ele tinha umas músicas e começou a brincar com o pedal de loop dele. Foi nele que nasceram os Basset Hounds, ele gravou com um amigo dele, o João Chaves e gravou a cena dele a solo. Depois de ter lançado isso, foi-me apresentado por uma amiga em comum e eu e ele começámos a tocar guitarra, depois começou-se a pensar em banda. Então o António conhecia o Zé (baixo) que conhecia o Afonso (bateria) e pronto, combinámos um ensaio num estúdio e a cena correu muito bem. Tivemos uma grande química logo no ensaio e cá estamos nós, foi mais ao menos assim que nasceram os Basset Hounds como os vêem agora.
W&L: É verdade que no princípio ainda não tinham um nome? E como é que se lembraram do nome “Basset Hounds”?
Miguel: É assim quando nós os três entrámos já havia o nome Basset Hounds. Segundo a explicação do António, ele estava a ver um episódio de Prince of Bel-Air e apareceu um basset hound, que é uma raça de cães …
Afonso: Não, não era não. A avó dizia é que dizia aos netos. Eles estavam todos à volta da mesa da cozinha para comer, roubavam comida e ela dizia “oh you basset hounds”.
W&L: Então não estão associados a cães?
Miguel: No início era um bocado.
Afonso: Isso era no início mas agora não queremos passar essa ideia do cão.
W&L: Vai ser um bocado difícil. (risos)
Conseguimos contactar novamente a banda e o António (o membro desaparecido) conseguiu esclarecer-nos, felizmente: A fonte está certa, saiu da série mas a ideia principal, tirando a cena da banda estar associada a uma matilha, traduz-se no antagonismo que tirei da própria raça do cão. É um cão de caça mas ao mesmo tempo é um cão bastante pastelão e pachorrento. Essa ideia de antagonismo penso que sempre se manifestou na nossa música = músicas mas pastelonas e melosas para outras mais agressivas e com mais ataque.
W&L: Como é que descrevem o vosso som?
Afonso: Quem pode explicar melhor é o Henrique.
Miguel: Sim, o nosso manager … pá isso é um tema um bocado chato, sinceramente. Deixamos um bocado ao critério das pessoas, nadamos um bocado entre as nossas influências.
W&L: Diriam que é uma mistura de … ? Rock?! (risos)
Afonso e Miguel: Rock, indie, psicadélico, shoegase …
Miguel: Tem um bocado de tudo, sinceramente. É uma mistela de tudo o que nós ouvimos, as nossas influências, uma cena mais ocasional. Não gostamos muito de estar a dizer “não, isto é rock/indie/psy”.
W&L: Ok, não gostam de rótulos!
BH: Não, não.
Miguel: Nós não nos importamos.
Afonso: Também temos dificuldade em pôr um rótulo a nós próprios.
W&L: A próxima questão por acaso é mesmo quais são as vossas maiores influências?
Miguel: Afonso começa tu. (riso)
Afonso: Pá, não sei … é por fases, não é? É um bocado por fases …
Miguel: Eu tenho um termo que é bandas pilares que é tipo as bandas que forneceram a estrutura para o que eu oiço um bocado agora, e isso é Sonic Youth, The Unicorns e … não sei, vou ficar com esses dois.
W&L: E vocês?
Afonso: Epá não sei …
Miguel: Diz duas. Arctic Monkeys!
Afonso: Arctic Monkeys sim, porque pronto a bateria sempre foi boa. Isso é verdade.
W&L: Por acaso foram vê-los este ano?
BH: Não.
Miguel: Já não curto.
Afonso: Exacto, estou um bocado triste com isso.
Miguel: Não chores. (risos)
Afonso: As duas últimas coisas que fizeram não foram …
W&L: Mas continuam bons ao vivo.
Miguel: É um bocado tipo play.
Afonso: Pois. É um bocado “agora somos nós, vamos tocar e vamos embora”.
Miguel: Nada contra.
W&L: Não queres responder? [pergunta dirigida ao Zé]
Zé: Por favor não. (risos)
Afonso: O Zé agora tem influências chinesas, esteve em Beijing três semanas e veio um bocado orientalizado. Mas depois há aquelas cenas mais actuais como DIIV …
Miguel: Mac DeMarco.
W&L: Reparámos que as vossas músicas iniciais estão intituladas em português, mas as mais recentes são em inglês. Correcto?
Miguel: Isso foi o tal EP que o António gravou sozinho.
Afonso: Pois, as primeiras coisas que temos da nossa banda que foi do primeiro EP, foi gravado sozinho pelo António no Porto. Curiosamente nunca chegámos a tocar isso depois.
Miguel: Nós começámos por tentar, mas pá 4 pessoas cada uma com o seu estilo, a cena recriou-se e transformou-se.
Afonso: Teve graça porque o Zé mandou-me as coisas todas que o António tinha feito e não os conhecia, aprendi isto e tentei perceber mais ao menos a bateria e "vamos lá tocar”, quando chegámos lá não tocámos nada. Nem uma música.
W&L: Pois, a pergunta era mesmo porque é que mudaram mas já explicaram. Mas pronto, visto que as músicas agora são em inglês. Sentem-se mais à vontade com o inglês ou acharam que o português não tinha assim muita piada?
Miguel: Eu pessoalmente – pronto, sou eu que faço as letras – eu vejo como uma questão de do que é exposto da minha parte. E acho que cantando em inglês há mais um sentido de protecção, enquanto que em português é preciso seres muito sincero para o queres dizer, neste caso cantar. Nesse aspecto tem a ver com a minha personalidade, acho que prefiro cantar em inglês por uma questão de segurança e também tens sempre um bocado aquela coisa do internacional. Queres que a tua banda seja o mais internacional possível, daí o inglês.
W&L: Se pudessem fazer uma série de tv sobre a vossa banda, que nome lhe dariam? E qual seria a história dessa mesma série?
Miguel: Só nós?
W&L: Sim.
W&L: Queriam fazer um Big Brother com eles? (risos)
Afonso: Era fixe, por acaso era fixe. Band Brother! Mas essa pergunta é curiosa …
Miguel: Mas uma série de televisão? Acho que o mais provável seria uma mistura entre Bruno Aleixo com Big Brother mas a gozar.
Afonso: Chamava-se “Os Incríveis”. "Os Sensualões!" (risos) Acho que "Os Sensualões" era bom.
W&L: Acho que ganhavam logo muitos mais fãs. (risos)
W&L: Dá para entender que gostam de cães, por isso, imaginem que noutra vida poderiam ser o animal que quisessem? Qual seriam?
Miguel: Chiuaua. (risos)
Afonso: Mas espera um cão?
W&L: Não, um animal qualquer.
Miguel: Eu curtia bué de ser uma preguiça.
Afonso: Gostava de ser um pássaro ou uma ave qualquer. Ou um leão, o rei da selva!
Miguel: Sê um hipogrifo.
Afonso: É rei da selva, pêlo já tenho …
Miguel: É uma mistura entre leão e um …
Afonso: Um grifo.
Miguel: E um grifo.
Afonso: Ó Zé tu estás …
Zé: Um pegasus.
Afonso e Miguel: Um pegasus! (risos)
Miguel: Opá vocês vão todos para a mitologia e deixaram-me com uma preguiça. Que má onda. (risos)
Afonso: Tu é que escolheste primeiro. E o António, o que é que o António seria?
Miguel: Não sei … Vamos deixar isso ao critério do António.
W&L: O que é que podemos esperar do vosso álbum de estreia?
Afonso: Coisas boas, em princípio coisas boas.
Miguel: Bombásticas.
W&L: Música … (risos)
Afonso: Música, bem isso é certinho que vão ter música no nosso álbum. Mas acho que temos umas coisas engraçadas, umas coisas que se calhar já são bastante diferentes das primeiras que fizemos.
Miguel: Sim, bastante diferentes. Nós temos estado a evoluir bastante e acho que este álbum vai ser um bocado a primeira afirmação de nós como banda, porque até agora não tivemos nenhum registo sério por assim dizer. Acho que este álbum vai marcar, vai ser o começo do que vai ser o nosso som. Esperemos que corra tudo bem e que fique bom e que as pessoas curtam.
W&L: Como é o vosso concerto de sonho? Se tivessem de idealizar um concerto perfeito, como seria?
Afonso: Sem falhas, sem erros.
Miguel: Bom público, ambiente do caralho, boa interacção …
Afonso: Não sei se podes dizer isso. (risos) Isso caralho não sei se é uma palavra que se possa utilizar.
Miguel: Sou do Norte, têm de me perdoar.
Afonso: Mas é um concerto em que consigamos passar exactamente aquilo que sentimos em palco. E quando estamos num ensaio a fazer as músicas …
Miguel: É a energia que nós sentimos também seja recíproca.
W&L: Mas querem nalgum local específico?
Afonso: Acho que todas as bandas anseiam tocar num palco com uma multidão fixe. Não precisa um palco principal, se calhar.
Miguel: Podemos começar assim num Paredes de Coura.
Zé: Podemos tocar aqui.
Afonso: Mas para mim ainda me dá um grande gozo tocar em salas pequeninas.
Miguel: Até porque não temos muito público. (riso) Mas sim, o sonho é ter uma malta a cantar a nossa música e saber as letras.
W&L: Mas assim nada de fãs muito viciados.
Miguel: Não me oponho. (risos)
W&L: Principalmente se fosse uma rapariga, não?
Miguel: Não posso. (risos)
Afonso: Não, era fixe.
Miguel: Epá várias ou fica só uma, temos que dividir. (risos)
Afonso: Teria um grupo assim de fãs que sabiam as letras todas. Mas é engraçado porque agora aos poucos já – claro que são os nossos amigos ...
Miguel: E os nossos pais.
Afonso: E os nossos pais. Mas é engraçado nos concertos a malta que já sabe as letras e volta e meia já se põem a cantar.
W&L: Pronto, eu diria que vocês estão um bocado no início e por isso qual seria o conselho que vocês dariam a alguém que quisesse formar uma banda? Por exemplo se nós quiséssemos formar uma girls band o que é que nos aconselhavam?
Afonso: Se fosse uma girls band se calhar o José sabe. (risos) Mas acho que posso falar por todos, nós tivemos a sorte de ter os JUBA a dar-nos aquele empurrão que às vezes é preciso para as bandas “saírem da garagem”. E acho que isso é uma coisa que se calhar faz falta pelo menos no nosso meio enquanto as bandas ainda estão a crescer, é que haja entreajuda com bandas que estão na mesma fase e na mesma situação, mais do que competição. Nós não precisamos de competição, para quê? Não vale a pena as bandas estarem a competir por um lugar ao sol, se se ajudarem umas às outras como nós tivemos a sorte sermos ajudados pelos JUBA, um dia gostávamos de poder fazer isso por outra banda qualquer ...
W&L: Então se algum dia quisermos criar uma banda falamos convosco, é isso? (risos)
Afonso: Exactamente.
W&L: Ok, vou manter isso em mente!
W&L: Esta já é um pouco mais pessoal mas não podem sair de casa sem o quê?
Zé: Calças. (risos)
W&L: Convém!
Miguel: Eu não vou responder mais, está mais que respondido.
Afonso: Não estava à espera, meu.
W&L: Se pudessem escolher algumas pessoas para a vossa alcateia quem seriam?
Miguel: Se alguém tocar teclados e quiser assim …
Afonso: Mas já tivemos mais gente a tocar connosco. Houve uma altura em que o Zé se foi embora e tivemos o …
Miguel: O Chaves.
Afonso: O Chaves também mas o Isidro teve a tocar connosco, mas pá esses gajos são pessoas que se um dia isto crescer era fixe de tocar, que deram contributo à banda.
W&L: Uma última pergunta, visto que são sempre só rapazes aceitariam raparigas no vosso grupo?
Miguel: Acho que a pergunta devia ser mais ao contrário, mas claro que sim! Porque não? A fazer uns back vocals, bué fixe. Curtia bué. Achas?
Afonso: Sim.
Miguel: Acho que uma banda é muito como uma relação, literalmente.
Zé: Desde que nos sintamos à vontade.
Miguel: Exacto, desde que haja química, desde que haja à vontade percebes? É um bocado por aí, pode ser rapaz ou rapariga.
W&L: Mas mesmo não fazendo parte da banda, por exemplo como roadie?
Miguel: Isso sem dúvida que sim.
Afonso: Acho que sim.
Miguel: Mas também arranjares uma rapariga que carregue com os amplificadores. (risos)
Afonso: Podia levar as águas e coisas assim. Não, mas é o que ele diz. É difícil. Isto é como uma relação e no fundo nós acabamos por passar muito tempo os quatro juntos a fazer coisas, e às vezes acaba por dar chatices.
Afonso: Podia levar as águas e coisas assim. Não, mas é o que ele diz. É difícil. Isto é como uma relação e no fundo nós acabamos por passar muito tempo os quatro juntos a fazer coisas, e às vezes acaba por dar chatices.
Miguel: Nós temos os nossos stresses e é literalmente uma relação porque isto é um namoro a quatro.
Afonso: E se às vezes amores com dois já é complicado, não é?
Miguel: Há dias em que não te apetece ver pessoas. Há dias que estás bué “bora tocar”, há dias em que estás mais um bocadinho para discutir e temos dias de tudo. E o ter mais pessoas era só mesmo se houvesse química, se fôssemos todos amigos.
Texto: Diana Veiga
Fotos: Iris Cabaça
Fotos: Iris Cabaça
Leiam a reportagem dos concertos dos Basset Hounds e JUBA no Sabotage aqui.
Entrevista aos Basset Hounds
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agosto 25, 2014
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