Entrevista com os Macadame
À conversa com os Macadame no festival O Sol da Caparica.
Watch And Listen: Podem contar-nos um pouco acerca da história
da formação da banda?
João Fong: Bom, fazemos todos parte de um grupo da Academia
de Coimbra, o GEFAC, há muitos anos, outros mais que outros, mas para aí há 10
anos todos. É um grupo que trabalha há algum tempo a música tradicional, o teatro
popular, a dança, etc… Tudo o que seja relacionado com cultura popular,
portanto. A certa altura tudo o que se fazia lá era mais ligado à parte da música.
E nessa parte da música, o que se trabalhava lá era mais direcionada para um
espetáculo que juntou todas as vertentes existentes do grupo. E há sempre um
certo constrangimento, quando nos juntamos a alguém. E achámos que havia espaço
para fazer alguma coisa nesta área e sem conversa dos constrangimentos,
juntámo-nos e fizemos um grupo, os Macadame.
W&L: E agora pedimos que nos falem do vosso álbum de
estreia. O processo de gravação, como foi gravar, etc… Acharam que tenha sido fácil?
Vânia Couto: Nós fomos fazendo tudo com muita calma, fazendo
as músicas aos poucos e poucos. Assim ao longo dos ensaios e por isso é que
demorou mais tempo a ser produzido. Porque fomos fazendo tudo com muita calma. Vendo
as músicas com muito cuidado, e o que queríamos. E depois, o álbum foi
acontecendo. E daí a historia do nome do álbum…
João Fong: Os Macadame vêm desde 2010. Mas só gravámos o álbum
agora por causa disso mesmo. Queríamos ver tudo com calma. A história do nome
do álbum é que nós tínhamos o nome do álbum, mas ainda não tínhamos banda. (risos)
Estávamos a ver o nome para o espetáculo do GEFAC na altura e encontrámos este
nome: “Pão Quente e Bacalhau Cru”. Pensámos logo que este era um bom nome para
um álbum. E passados alguns anos estávamos sempre a comentar que devíamos criar
uma banda para ter um álbum com este nome. E criámos a banda.
Vânia Couto: Portanto, o álbum está desde o início na banda.
Pão Quente e Bacalhau Cru. Foi crescendo aos bocadinhos, fomos fazendo e
experimentando coisas e demorou cerca de 1 ano. Feito com calma. Tínhamos esta
religião dos ensaios às terças-feiras. Mas quando fomos para estúdio, começámos
a fazer ensaios mais intensivos. Mas era uma coisa feita com pés e cabeça. As músicas
tinham que ter consistência.
João Fong: Ir para estúdio e gravar tudo seguido numa semana?
Não. Decidimos ir gravando e ouvindo e gravar outra vez e ouvir… até
encontrarmos o que queríamos.
W&L: E já agora como é que se lembraram do nome da
banda? Não é um nome vulgar…
Vânia Couto: Andámos muito tempo à procura do nome para a
banda. Já tínhamos para o álbum e não tínhamos para a banda! (risos) Um amigo
nosso é que sugeriu o nome aliás. Os nomes que encontrávamos tinham todos a ver
com flores. Então os nossos amigos estavam a ver um ensaio e esse amigo em
jeito de brincadeira disse “vocês não sei o que são! nem são terra nem são alcatrão…
Parecem macadame!” e então saiu Macadame. E então foi mesmo Macadame. Assentámos
com este e decidimos ficar com o nome Macadame, porque consegue dizer, um
bocado, qual é o nosso conceito. O nosso estilo.
W&L: E em relação a inspirações musicais, quais as
vossas maiores inspirações?
Vânia Couto: Quanto a isso, nós vimos de estilos diferentes,
temos gostos diferentes. Eu sou mais do fado e do jazz. O Rui é mais do rock. O
Alex é do clássico e toca braguesa. Mas todos nós temos a mesma paixão: música tradicional
portuguesa. Temos essa paixão muito grande pela recolha e pela musica, e não só.
Acabamos por não ter uma língua condutora. Cada um de nós escolhe as músicas
que mais gosta, a letra que ouviu ou, até mesmo, uma gravação de uma velhinha a
cantar uma canção. Gostamos e guardamos para nós. Trazemos para o ensaio e
resulta um bocadinho disto. Não há músicas de um só sitio é tudo desde que nos
faça sentir e desde que gostemos. E se resultar e gostarmos, fica.
João Fong: E o processo criativo é muito colaborativo. Todos
participam muito. Damos ideias, se é fixe se não. Trazemos a gravação e a
recolha. Trazemos o “cru” e depois juntamos e se gostarmos fica.
W&L: Essa mistura de influências que vocês vão buscar e que
reúnem num só som, como é assim tão único já pensaram em dar um nome a esse género?
É que vemos-vos como talvez revolucionários por juntarem tanta coisa, até
porque não é algo que ouve-se em todo o lado, hoje em dia.
João Fong: Nunca pensámos nisso. E não é assim tao revolucionário
como pensam. (risos) Se fores ouvir o álbum do Júlio Pereira, “O Cavaquinho”,
que é do ano 82 para aí. Se vocês ouvirem o álbum podem verificar que este tem
montes de eletrónica, lá por trás. E existem muitos instrumentos sintetizadores
e guitarras eletrónicas. Sim eletrónicas, não elétricas. Os Macadame não são assim
tao revolucionários. Já muita gente fez isto. Existe uma banda da Sandra Baptista,
com a qual estivemos a falar há pouco, e uma do João Aguardela, os Sitiados.
Eles tinham um megafone e misturavam eletrónica e música tradicional. Há muitas
coisas que misturam vários estilos.
Vânia Couto: Eu acho, que agora há uma tendência de as
bandas criarem algo novo. Algo diferente na música tradicional. E nós, cada um
têm a sua personalidade e referência musical. Nós, só queremos trazer aquilo
que temos. Não temos o objetivo de mudar e de trazer algo novo. O objetivo não é
fazer a diferença, mas fazer o que gostamos.
João Fong: O que resulta disto é original, sim. Mas não inovador.
Fazemos à nossa maneira, só. No fundo é a paixão que temos por isto.
W&L: Descobrimos que vocês usam uma braguesa. Isso foi
algo que quiseram logo de inicio ou foi algo que acharam que faltava?
Vânia Couto: Não o Alex já tocava braguesa, aliás, ele toca vários
instrumentos tradicionais. Achámos que a braguesa, para aquilo que queríamos, fazia
mais sentido. Ele também usa guitarra acústica, mas no concerto de hoje não tivemos
essa canção em que ele a usa. Mas, sim, usa mais a braguesa e pronto achávamos que
fazia sentido no projeto.
João Fong: Logo de início pensámos que a queríamos ter, e
depois queríamos efeitos eletrónicos e achámos que essa mistura era gira.
Vânia Couto: E houve uma vez que tentámos inserir um
cavaquinho e não gostámos. Mas a braguesa está lá desde o início. Assim como a
guitarra elétrica. Mas cada uma dá o seu estilo musical.
W&L: E em relação ao nome do vosso álbum, “Pão Quente e
Bacalhau Cru”, é muito característico… Gostávamos de saber o porque da escolha.
João Fong: Estávamos à procura do tal nome para um espetáculo,
que já vos falei, e vimos esse nome “Pão Quente e Bacalhau Cru” num livro, já não
me lembro de quê. E achámos que seria um bom nome para um álbum, ainda nem tínhamos
banda.
Vânia Couto: E depois dizíamos que iríamos fazer uma banda
só para ter um álbum com esse nome. É claro que não foi esse o objetivo de
termos feito a banda. Mas acabou por ser esse o ponto de partida. Saiu em maio
deste ano e fizemos a estreia no conservatório de Coimbra e temos tido uma boa recetividade.
João Fong: Temos tido poucos concertos infelizmente. Mas
ainda é o início, claro. Futuramente havemos de ter mais.
Texto: Alexzandra Souza
Fotos: Iris Cabaça
Entrevista com os Macadame
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setembro 03, 2014
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