Vodafone Mexefest 2016: o melhor fica para o fim
O segundo dia do Vodafone Mexefest chegou rápido e com ele, infelizmente, o fim do festival. Mas, antes disso, houve grandes concertos que deram vida à Avenida da Liberdade durante toda a noite de sábado. Descer e subir a Avenida já custava, não fosse o cansaço do dia anterior, mas não nos deixámos ganhar pela fatiga nem pela chuva que persistiu em se manter durante todo o dia, e caminhámos com vontade em direção aos serões incríveis que nos aguardavam. É de realçar a beleza das salas escolhidas que tornam todos os concertos ainda mais agradáveis e incríveis. Neste dia quase todas as as salas estiveram cheias o que é ótimo e uma vitória, pois, significa que no nosso país há público para vários artistas de géneros musicais diferentes.
O nosso último dia a mexer na Avenida começou na Sociedadede Geografia de Lisboa com Meg Baird. As calmas melodias combinadas com a voz angelical e o belo espaço onde ocorreu o concerto fizeram todos suspirar e relaxar por um bocado (até demais para alguns...). O pouco que vimos deu para concluir que embora se mantenha sempre no mesmo registro, Meg é cativante e sabe manter a atenção do público focada em si. De seguida e num ambiente muito menos acolhedor graças à chuva, vimos um excerto do primeiro concerto, que fez parte do Vodafone Cuckoo, dos Capitão Fausto na varanda do Coliseu dos Recreios, antes de dar horas de entrar para Gallant. Não há muito mais a acrescentar, os Capitão Fausto são os Capitão Fausto e nem a chuva os pára. Já o segundo concerto, às 22h, foi à entrada do Coliseu devido ao tempo, parecendo ter atraído ainda mais pessoas à volta do grupo.
Seguiu-se um dos melhores concertos do dia e do festival. Sir Gallant ao dispor de um Coliseu dos Recreios cheio e boquiaberto com o talento do músico. A voz arrebatadora surpreende qualquer um e chega até a comover. O cantor promissor de R&B movimenta-se em palco de uma forma que parece que está a expulsar os seus demónios através do sentimento transmitido na sua voz. Pois, ele sente cada palavra que canta e o público sente o mesmo igualmente. Foi uma hora de concerto que se dissipou tão rápido quanto vapor de água. Soube a pouco, mas soube tão bem. O próprio músico pareceu ficar sensibilizado com a quantidade de fãs que o receberam e pareceu surpreso da multidão saber as letras de trás para a frente. Absolutamente divinal e merece voltar para algo com maior duração. Nós aprovamos e os fãs portugueses também.
De um concerto emocionante até aos tutanos passámos para o concerto na estação Ferroviária do Rossio do indie rock com tons de folk de Kevin Morby totalmente lotado. Mal nos conseguíamos mexer entre o público e foi uma missão quase impossível arranjar um bom lugar para ver o aguardado músico, mas valeu a pena o esforço. Muito dentro do expectável e ainda assim excepcional, o músico tocou algumas canções do seu novo álbum "Singing Saw", não colocando clássicos de lado. O público pareceu satisfeito mas fica-nos a sensação que muitos fãs ficaram de fora desta festa. Talvez num sítio maior para a próxima?
Elza Soares no Coliseu dos Recreios era o que se seguia no nosso roteiro e qual a nossa surpresa quando nos apercebemos que estávamos a ver o melhor concerto do festival. A noção de que a cantora brasileira era enorme já nos era familiar, no entanto, não tínhamos noção do seu poder ao vivo. Atrevemos-nos ainda a dizer que é complicado ter noção do furacão que a Mulher do Fim do Mundo é, antes de a vermos realmente. Única, ousada e inovadora. A já senhora, deu o melhor concerto do festival e provavelmente um dos melhores que se viu em terras lusas este ano. Torna-se fácil compreender o porquê de ter sido eleita "a cantora do milénio" após se presenciar o duro e incrível espectáculo que a cantora dá. Elza não se precisa de levantar do seu trono para despejar energia no público nem para despejar os seus ideais que são carregados nas suas audazes letras. Uma senhora cheia de personalidade e que faz todo o mundo desejar ter um terço da sua genialidade. Meras palavras não chegam para descrevê-la ainda que tenhamos, humildemente, tentado. Concluiu-se que é indiscutível. Elza Soares leva a medalha de ouro para casa.
Arrebatadas com o espectáculo executado por Elza Soares, subimos um bocado a Avenida para acalmar os ânimos ao som dos doces Whitney, no Tivoli. Num formato único e nunca antes visto por nós, os Whitney não atuaram enquanto banda e foi um concerto à base de conversa com o público e canções executadas de modo acústico. Incrivelmente belo, os Whitney não só deixaram os olhos dos presentes presos no palco até aos últimos acordes, como conseguiram arrancar algumas lágrimas marotas que fizeram questão de se manifestar.
Voltámos a descer a Avenida da Liberdade uma última vez, algo apressadas para que não perdêssemos o resto do concerto que aconteceu numa das mais belas salas do festival, a Casa do Alentejo. Taxiwars e o seu enérgico jazz corajosamente misturado com o rock característico do vocalista de dEUS conquistou todos os recantos da sala. A rebelde e intensa colaboração de Tom Barman e Robin Verheyen soa ainda melhor ao vivo e ficamos só com pena de não termos visto na íntegra. Ainda assim, o pouco que vimos fez jus às expectativas. A energia é única e esperemos só para que voltem muito em breve.
Para fechar estes dois dias incríveis em grande, optámos por voltar ao Coliseu dos Recreios para dançar um pouco com Branko. Por todo o lado dançava-se e aproveitava-se os últimos momentos desta edição, que nem pela chuva foi abalada. Mayra Andrade ainda subiu ao palco para cantar o single "Reserva Pra Dois", como era um bocado previsível e ainda bem que aconteceu porque foi a primeira vez que se viu e ouviu os dois no mesmo palco a tocarem esse tema. As músicas globais de Branko que misturam ritmos africanos com eletrónica meteram o festival a suar e não podia ter acabado de melhor forma. Mais uma incrível edição acabou na perfeição e infelizmente passou a correr e temos a certeza que irá deixar muitas saudades. Até para o ano, Vodafone Mexefest.
Texto: Alexzandra Souza
Fotos: Iris Cabaça
Vodafone Mexefest 2016: o melhor fica para o fim
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novembro 29, 2016
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