Lisboa Dance Festival: a maior celebração da música eletrónica
A segunda edição do Lisboa Dance Festival teve lugar nos passados dias 10 e 11 de Março e contou com 11.000 pessoas. A LX Factory recebeu, por dois dias, nomes incontornáveis do panorama da eletrónica e também hip-hop nacional e internacional. Foi uma festa sem igual e, adiantamos já os parabéns à organização. Esperemos que continuem por muitos mais anos.
No primeiro dia, 10 de março, já se previa que seriam dois dias de festejos, sem margem para pausas. O cartaz todo ele era ótimo, sendo que era difícil destacar-se algo que queríamos mais ou menos ver. Chegámos cedo no primeiro dia para dar a primeira vista de olhos pelo espaço, e para percebermos como iriam ser os nossos dias seguintes. Mesmo cedo, já existia muita gente a circular enquanto esperavam ansiosamente pelo festival. O nosso primeiro dia, começou com um B2B de Davide Pinheiro e Vítor Belanciano na Kia Rio Room (The Dorm). Foi a melhor forma de começar e de preparar os ânimos para tudo o que iríamos ver de seguida. O rapper da linha da Azambuja, Holly Hood, abriu as hostes da Fábrica XL e apresentou o seu álbum "O Dread Que Matou Golias". Neste concerto, Holly Hood mostrou que é um dos novos rappers tugas a quem se deve prestar atenção, pois, já começou a marcar a sua posição no mundo do hip-hop português. Após Holly Hood, demos um salto até ao Clube Antena 3 (Ler Devagar), para tentarmos apanhar um bocadinho de Ghost Hunt. Felizmente chegámos a tempo, e ainda vimos um pouco do concerto que deu para perceber que a banda está cada vez melhor e sofreu uma positiva evolução nas suas atuações ao vivo. Antes de irmos para a Fábrica XL, que iria receber dentro de minutos a magnífica Jessy Lanza, fomos até à Carlsberg Room (Zoot). Espanto o nosso quando percebemos que chegámos a horas de ver o novo projeto de Guilherme Tomé Ribeiro, dos conhecidos Salto. A Open House do Moullinex incluiu GPU Panic na sua programação, e ainda bem. Lançado há pouco, este é claramente um projeto que dará que falar e não foi preciso ver mais que dez minutos para se perceber isso. De modo simples e direto, Guilherme meteu facilmente a sala a dançar. Não estava totalmente cheio, mas estava o suficiente composto para podermos afirmar que de certeza que o projeto ganhou novos fãs. O concerto da noite seguia-se com Jessy Lanza na Fábrica XL, que foi provavelmente uma das grandes surpresas do festival, ainda que soubéssemos o que ela valia e o quão incrível era. Jessy Lanza conseguiu a proeza de bater qualquer concerto realizado naquele dia, e subir diretamente para o nosso concerto preferido do dia. Durante uma hora, a jovem com claras influências de FKA Twigs, deixou-nos maravilhadas perante um concerto muito bom em que ninguém deixou de dançar e ficar atento ao que se passava em palco. Apenas faltou que a jovem controlasse melhor a sua voz. Não fosse isso, e daríamos 5 estrelas. Assim, fica apenas pelas 4. A norte-americana TOKiMONSTA começou o seu DJ set, na Fábrica XL, de uma maneira muito efusiva onde passou remixes das músicas de Kendrick Lamar e Tove Lo, por exemplo, conseguindo meter o público ao rubro. Porém, a meio abrandou um pouco o ritmo que já não deu tanta vontade de se dançar. Em seguida, o português DJ Glue encheu e animou a sala Clube Antena 3 (Ler Devagar) de uma ponta à outra e não houve ninguém parado durante esta hora e meia. A nossa noite acabou com o espetáculo bastante especial de Batida nesta mesma sala. O momento único aconteceu porque Pedro Coquenão aka Batida teve um programa de rádio na Antena 3 chamado "BATIDA, o estado grave do planeta" onde passava músicas com ritmos lusos e africanos. Assim, neste set a música saiu todas através de rádios que estavam em cima do palco juntamente com algumas palavras ditas pelo artista como incentivo para as pessoas se mexerem. Um espetáculo inesquecível que fez sentido no festival, na sala e para a carreira de Batida.
Era já dia 11 e, também o segundo e último dia do festival, com muita tristeza nossa. O tempo passou a correr mas teríamos ainda mais algumas horas a aproveitar neste incrível festival. Este foi também o dia que seria o melhor deste fim de semana recheado de música eletrónica. Mount Kimbie e Hercules & Love Affair eram os nomes pelos quais todos ansiavam, e não era de admirar já que foram dois dos melhores concertos do festival. Em primeiro lugar, fomos ver os workshops sobre "Djing" e "Masterização" e a Masterclass sobre "Dominar as Redes Sociais". Algo diferente e inovador que não costumamos ver nos festivais. Quanto aos concertos, começámos novamente na sala The Dorm onde vimos o B2B de Pedro Ramos e Mr. Mitsuhirato para nos aquecermos e prepararmos para o que vinha a seguir. A Fábrica XL por volta das oito horas da noite, já se encontrava bem composta e à espera da jovem portuguesa, sediada em Londres, Mai Kino. A Mai Kino era um dos nomes que mais queríamos ver, pois já há alguns meses que o projeto chamou a nossa atenção. Catarina fez jus às nossas expectativas e deu um sereno e belo concerto. A sua melodiosa voz permitiu aos demais uma viagem incrível pelos recantos de cada pequeno mundo que as suas canções permitem criar. Quem não era fã, saiu fã. E quem já era, viu as suas altas expectativas cumpridas. Felizmente o regresso de Mai Kino a terras lusas está marcado para 27 de Abril, no Teatro Aveirense. Aconselhamos a que quem perdeu este, que vá até Aveiro. Após a jovem portuguesa, vieram os dois nomes mais aguardados do cartaz de seguida: Mount Kimbie e Hercules & The Love Affair. Mount Kimbie foram os primeiros a subir a palco perante uma Fábrica XL perto de estar lotada. O regresso do duo britânico já era esperado por muitos, desde a sua última visita a Portugal em 2015 no Musicbox, em formato DJ set. O duo apresentou-se com músicos extra, a tocar os variados instrumentos necessários para que o concerto fosse desempenhado da melhor forma possível. Ouviram-se grandes clássicos como também material novo, que de certeza irá marcar presença no novo trabalho de Kai e Dom. O público, eufórico, dançou freneticamente e sem parar até ao fim. O som pareceu um pouco baixo, mas fora isso, foi um dos melhores concertos do festival. Terminaram do melhor modo possível, com a clássica "Made To Stray" para felicidade de todos os presentes que já vinham a pedi-la desde o início do concerto. Não houve sequer tempo para acalmar os ânimos pois, de seguida, veio o melhor concerto de todo o festival. Hercules & The Love Affair não eram o nome que destacávamos como o que mais queríamos ver, mas após o concerto ficámos indiscutivelmente rendidas. A banda não precisa de muito para dar um espetáculo. Basta os dois vozeirões que guiam o projeto e está garantido um concerto sem igual. Foi um concerto que sobretudo agarrou todos do início ao fim, e deixou todos a suspirar e desejar por mais. Dançar sem parar é mesmo a frase de honra do Lisboa Dance Festival e também dos Hercules & The Love Affair que transpiram energia e exaltação acompanhados de duas vozes extremamente belas e extraordinárias. Não existem palavras, foram simplesmente os melhores. A euforia continuou com Enchufada na Zona, a curadoria de Branko na Carlsberg Room (Zoot). Branko convidou Rastronaut e Dotorado Pro para o ajudarem neste bocado a que assistimos e conseguiram meteram a sala toda a transpirar com os seus ritmos africanos. O resto da noite resumiu-se a dançar até não puder mais e gastar o pouco de energia que ainda nos restava ao som do DJ set de Rui Maia e mais tarde, de George Fitzgerald. O Lisboa Dance Festival está mais de que parabéns e só temos pena de uma coisa: passou demasiado rápido. As saudades ficam e está garantido que voltamos para o ano. Quem perdeu esta edição, favor de não perder a próxima. Vale toda a pena do mundo.
Texto: Alexzandra Souza e Iris Cabaça
Fotos: Iris Cabaça
Lisboa Dance Festival: a maior celebração da música eletrónica
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março 16, 2017
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