Vodafone Mexefest 2017: no segundo dia, a diversidade de volta à cidade
Segundo dia de Vodafone Mexefest, último dia do ano para muitos fiéis dos festivais. Ao segundo dia, já pedíamos cinco minutos de
descanso e um chocolate quente. Nem isso nos fez parar de mexer pelas
ruas da Avenida e garantir que aproveitámos até ao último segundo.
O dia 25 de novembro, segundo dia do festival, emergiu forte nas apostas
internacionais e deixou adormecer o hip-hop, dando lugar a estilos com
contornos de experimental pop e indie rock, sem deixar de destacar o que
melhor se produz nas editoras independentes do nosso país. No caminho,
cruzámo-nos com Conjunto Corona, Luís Severo, Cigarettes After Sex,
Childhood, Mahalia, Everything Everything, Sevdaliza e Moullinex.
Em primeiro lugar, fomos até ao Cine-teatro Capitólio para ver os Conjunto Corona. Os portuenses sabem como animar o público com a distribuição de hidromel, meias e chinelos, e ainda o Homem do Robe. Muitas das músicas do último disco, Cima de Vila Velvet Cantina, já estão na ponta da língua das pessoas, e as letras de Chino no Olho, Bangla e Mafiando Bairro Adentro ouviram-se nas primeiras filas do Capitólio. Claro que também se ouviram algumas vezes os gritos de "Gondomar Gondomar Gondomar!", sempre presente nos seus concertos.
Um homem, um piano e um Teatro Tivoli cheio de emoção. É sabido que Luís
Severo já nos habitou a concertos intimistas, onde o piano é o seu
melhor amigo; porém, algo de mágico pairou na atmosfera daquela sala. Um
alinhamento completo, sem pausas, com transições fluídas entre temas. O
público, sentado, dividia-se entre a admiração silenciosa ou uma
entoação melodiosa de temas como Canto Diferente ou Meu Amor, álbuns
próprios, e passando por Cabanas do Bonfim, produção do duo do qual
faz parte, Flamingos. Se procurávamos um pouco de paz no meio da
agitação do Mexefest, encontrámo-la na calma do concerto de Severo, cuja
sonoridade se transforma num abraço apertado, numa poesia cantada. “Há
sempre um lugar onde parece que não passa o tempo” e tão bom que foi
encontrá-lo aqui tão perto.
Não foi espanto para ninguém entrar num Coliseu a rebentar pelas
costuras com a presença de Cigarettes After Sex. Fazia sentir-se um
rodopio agitado por parte daqueles que entravam uns minutos atrasados,
que se esforçavam para encontrar um lugar no meio da plateia, das
bancadas, dos balcões, dos camarotes, espaços ocupados por um público
que ansiava por aquele que era o primeiro concerto da banda em terras
alfacinhas. Apesar da fraca acústica inicial, que deixava a desejar
perante a carga emocional da voz de Greg Gonzalez, bastaram minutos para
relembrar o porquê de ser quase impossível não ficar com os sentimentos
à flor da pele quando o assunto é Cigarettes After Sex. Com temas como Affection, Sweet, K. ou Each Time You Fall in Love, a sala
vibrava, com um público que aplaudia afincadamente. Cigarettes After Sex
são a prova de que o cliché pode ser tão bonito como outra coisa
qualquer, desde que venha na forma de uma voz poderosa e de uma estética
romântica a preto e branco.
Os Childhood trouxeram o seu indie rock à Estação Vodafone
FM - Estação do Rossio. A banda é de Londres, mas os seus temas têm uma vibe
solarenga que relembram o verão. Ao vivo, a energia que emanam é descontraída.
Quando entraram em palco, estavam prontos para conquistarem o público
português e assim o fizeram. Inclusive, até convidaram um músico português
para tocar trompete neste concerto. “California Light” foi um dos pontos altos
do concerto.
Após termos visto um pouco do concerto dos Childhood, subimos a Avenida até ao Cinema S. Jorge para vermos a Mahalia na Sala Montepio. A Mahalia foi uma das melhores surpresas deste dia e do
festival, o que já era de se esperar honestamente. A cantora britânica tornou o
palco da sala Montepio do Cinema S. Jorge numa sessão de storytelling, e contou
a história do seu percurso pessoal e musical. Foi como se estivéssemos numa
sala a conviver com uma amiga a falar-nos da história da sua vida. Mahalia
apresentou temas do seu primeiro disco “Diary of Me”. Após este concerto, de
certeza que a artista será um nome grande no panorama musical. Em 2015, participou
no tema “We The Generation” dos Rudimental, que também têm olho e ouvido para
novas promessas na música, e acertaram com Mahalia.
Se em Cigarettes After Sex o Coliseu rebentava pelas costuras, o mesmo
não se podia dizer de Everything Everything. "It was about damn time!",
gritava alguém na plateia depois de relembrarem a sua última passagem
por Portugal, em 2013. Mesmo com uma sala não tão cheia como seria de
esperar, os britânicos deram toda a sua energia e conseguiram pôr todos a
dançar com temas como "Can't Do" ou "Desire", que definiram o fim da
hibernação de grande parte do público. "This one is easy, it goes like
this", numa introdução a "Regret", que agitou o Coliseu e não deixou
ninguém calado. Se é possível transformar questões políticas em músicas
dotadas de agitação, que nos fazem mexer com um sorriso nos lábios, os
Everything Everything sabem fazê-lo como ninguém.
Saímos em direção ao Cinema São Jorge, onde foi fácil perceber o porquê
de termos encontrado um Coliseu desfalcado em termos de público. Ainda
não estávamos nas redondezas da sala e já conseguíamos ver as filas
gigantes para Sevdaliza, a 20m do início do concerto da
artista irani-holandesa, que ocupava a rua que ligava o São Jorge ao
Capitólio. Foi numa sala cheia, sem espaço suficiente para garantir a
entrada de centenas de fãs da cantora, que Sevdaliza fez cair sobre si
uma atmosfera sensual, cuja energia exigia a admiração incessante dos
seus movimentos lentos e da segurança na sua voz hipnotizante. O público
gritava em êxtase, levantando-se para aplaudir de pé, cantando a plenos
pulmões com temas como "Human", "Do You Feel Real" ou "The Other Girl",
deixando o corpo ser guiado pelas vibrações. "There's no space for hatred, no space for bigotry, no space for judgment in this room, we're all energy",
palavras de Sevdaliza. Nas nossas palavras, houve espaço para o
deslumbramento e para uma das melhores atuações desta edição do Vodafone
Mexefest.
A última atuação que encerrou o Vodafone Mexefest deste ano foi a de Moullinex no Coliseu dos Recreios. O artista veio apresentar o seu mais recente álbum Hypersex, e, em palco, fez-se acompanhar por Guilherme Salgueiro, Guilherme Tomé-Ribeiro, Diogo Sousa e Ghetthoven, que ajudou ainda mais na animação da festa. Xinobi, Da Chick e Best Youth também se juntaram para interpretarem os temas que fizeram com Moullinex. O Coliseu encontrava-se cheio de pessoas ansiosas para se divertirem uma última vez, e foi exatamente isso que o músico tentou concretizar e conseguiu. O Vodafone Mexefest acabou em grande com este espetáculo de Moullinex, tal como já era esperado, sinceramente, por Luís Clara Gomes ser um dos melhores músicos de dança nacional.
Mais um ano de Vodafone Mexefest onde se viu e ouviu vários nomes emergentes do panorama musical nacional e internacional. O festival meteu a cidade a mexer novamente enquanto descobria música nova, que é a receita do seu sucesso.
Reportagem do primeiro dia
Texto: Carina Soares
Fotos: Iris Cabaça
Vodafone Mexefest 2017: no segundo dia, a diversidade de volta à cidade
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novembro 28, 2017
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