Vodafone Mexefest 2017: o poder do hip-hop (1ºdia)
A sétima edição do Vodafone Mexefest invadiu a Avenida da Liberdade nos
dias 24 e 25 de novembro e chamou para a rua todos os festivaleiros
adormecidos pela hibernação marcada pelo fim dos festivais de Verão.
Posto isto, como ninguém consegue ficar indiferente, também o Watch and
Listen se pôs a mexer pelas ruas lisboetas.
O primeiro dia do festival, 24 de novembro, contou com vários géneros musicais no cartaz, algo que vem sendo habitual, desde hip-hop, passando pelo rock e até à eletrónica. No roteiro deste dia, fizeram parte os concertos de IAMDDB, Washed Out, Oddisse, Valete, Hinds e Orelha Negra. Ainda deu tempo para uma volta no Vodafone Bus com os El Señor.
A
nossa primeira paragem foi IAMDDB. E que maneira de arrancar com o rodopio
de concertos destes dois dias! Chegámos a um Cine-teatro Capitólio que aguardava
ansioso pela energia de Diana De Brito. “Eu estou aqui Lisboa!”, gritou
enquanto pisava pela primeira vez os palcos portugueses. Não foi de
estranhar que as intervenções em português fossem uma constante para a
artista, nascida e criada no nosso país, e que tantas vezes fizesse
referência às suas origens e à sensação de pertença que a invadiu ao
longo do concerto. Se os fãs pediam, IAMDDB dava; a dinâmica
descontraída que tão bem assentou junto a temas como "Back Again", "Shade" ou "Trophy". O carinho pelo público, a impressão de estar entre
amigos, a influência das suas raízes na música foram factores mais do
que suficientes para tornar este num dos melhores concertos desta
edição.
Descemos
a avenida até ao Coliseu, a tempo de ver Washed Out. Considerado um dos
pioneiros da chillwave, talvez tenha abusado na parte do "chill": um
concerto cuja sonoridade pareceu demasiado monótona, sem momentos
particularmente relevantes. Destacou-se em termos visuais, com bons
efeitos e bom uso de imagem. Ainda assim, não deixou de pôr a dançar
aqueles que estavam dispostos a fazê-lo ao som de Mister Mellow, mais
recente trabalho e elemento principal do espectáculo.
Regressámos
àquele que foi, sem dúvidas, o palco do hip-hop e do rap neste Vodafone
Mexefest. Era
hora de Oddisee ocupar o Capitólio. Se as expectativas do público já
eram altas, então mais fácil foi perceber que foram ultrapassadas. Um
espectáculo de amor à música e ao que esta representa como caminho para
alcançar a liberdade, relembrando o porquê de ser um motivo de união de
pessoas tão diferentes. É caso para dizer que a pequena celebração de
aniversário da mãe de Oddisee foi a verdadeira forma encontrada para
agradecer o nascimento (e talento) do filho.
Em seguida, apanhámos uma boleia no Vodafone Bus com os El Señor. Nesta volta, que começou nos Restauradores, passou pelo Marquês do Pombal e pelo Cinema S. Jorge, ouvimos o rock de garagem do trio de Fafe. A banda animou o autocarro com os temas do EP "Alvorada Beat".
Valete, uma das confirmações mais controversas: se tentássemos dividir o público do festival, talvez fosse possível afirmar que existiam pessoas extasiadas com a presença deste e pessoas incrédulas pelo mesmo motivo. Ainda assim, falar de hip-hop 'tuga sem referir Valete é irreal. Com uma presença em palco que ressoou por cada recanto do Capitólio, Valete mostrou-nos que nunca se deixou enferrujar e continua a fazer aquilo que sempre soube fazer melhor: letras polémicas, com fundo de verdade pura e dura, de significados densos e que abrem a porta para agitação revolucionária. Ficou claro que "Rap Consciente" foi o retorno tão ansiado, sem nunca esquecer clássicos como "Anti-Herói" e deixando espaço a revelações como "Johnnie Walker".
Mexefest não é Mexefest sem correr de palco em palco e não podíamos acabar o primeiro dia sem respeitar esse mandamento: do Capitólio até à Estação Vodafone FM- Estação Ferroviária do Rossio foi um saltinho. Hinds eram um dos nomes mais badalados para os festivaleiros da noite, apesar de terem um repertório musical relativamente curto. "Poucas, mas boas", a forma certa de descrever as músicas tocadas por este grupo imparável. Esta foi a segunda vez da banda no festival, após se terem estreado no mesmo e no nosso país em 2014. Um concerto enérgico, onde foi impossível ficar quieto e indiferente à cumplicidade existente entre as quatro madrilenas. Se o conceito de girlpower ou sororidade viesse ilustrado num hipotético dicionário do Mexefest, de certeza que iríamos vê-las nas páginas do mesmo. Longe vão os tempos onde o rock era "coisa de homens"; claramente é "coisa de mulheres" e as Hinds que o digam. As chicas também apresentaram duas músicas novas, que irão fazer parte do sucessor de "Leave Me Alone", e são, claramente, uma evolução musical, mas ainda com a sonoridade própria e lo-fi que as distingue. Ao vivo, continuam a ficar cada vez melhores e notou-se neste concerto.
Os Orelha Negra encerraram este primeiro dia do Vodafone Mexefest no Coliseu dos Recreios. O super-grupo já não é novato nisto, e sabe como agradar ao público. O mais recente disco, que saiu em setembro, foi o prato principal deste concerto. A banda tocava os primeiros segundos de músicas como "A Sombra", "Ready" e "Parte de Mim" e bastava isso para o público ficar todo em êxtase. A mistura que fazem de hip-hop, eletrónica, funk e até jazz é o que torna a sua sonoridade tão especial e os faz saírem vitoriosos em cada local por onde passam. Claro que neste festival ninguém ficou indiferente a esta qualidade dos Orelha Negra.
Uma noite de destaque para o hip-hop e uma boa forma de aquecer o corpo para o segundo dia, que prometia pelos concertos de nomes como Cigarettes After Sex e Everything Everything.
Reportagem do segundo dia.
Texto: Carina Soares
Fotos: Iris Cabaça
Vodafone Mexefest 2017: o poder do hip-hop (1ºdia)
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novembro 27, 2017
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