Linda Martini: Fez-se uma casa no Lux Frágil


Não foi surpreendente que Linda Martini deixassem esgotadas duas noites de Lux Frágil (15 e 16 de fevereiro), não estivéssemos habituados a salas cheias de gente de todos os estilos e idades, público que tão bem acompanha o trabalho da banda formada por André Henriques, Cláudia Guerreiro, Hélio Morais e Pedro Geraldes há mais de uma década.


Ouvem-se os primeiros acordes do que seria a apresentação de Linda Martini, homónimo e quinto álbum da banda. Com Semi Tédio dos Prazeres, abrem o espetáculo e dão espaço para uma familiarização com o fundo rasgado e remendado, quase uma metáfora macabra para a experiência que é Linda Martini ao vivo: rasgam-nos a alma com as letras que tão perto atingem; remendam-na da mesma maneira.


É com um dos singles já lançados, Boca de Sal, que o público perde a timidez característica de quem ouve um álbum pela primeira vez, faz questão de acompanhar o refrão e intensifica o grito de quem "quer tudo ao mesmo tempo". Os arrepios deram o ar de sua graça ao ouvir inesperadamente Lição de Vôo Nº1 ou a absorver o peso de Se Me Agiganto, com cada acorde a envolver-nos numa densidade emocional à qual ninguém fica indiferente.


A agitação chegou realmente com Gravidade. Sobre este momento? Só te conto metade, nem te conto metade. Se existiu um minuto onde a gravidade se extinguiu e os pés deixaram de pisar o chão, foi este mesmo. Um pequeno mosh com direito a crowdsurfing, não com a mesma energia do costume, não com a mesma intensidade de quem rasga camisas e come pó aqui e ali, mas um concerto de Linda Martini não seria o mesmo sem uns corpos em colisão, não é verdade?


Não queríamos despedir-nos e regressar ao mundo real. O encore - que não o chega a ser - parece ter sido traçado para nos relembrar da definição de nostalgia: desde As Putas Dançam Slows do Marsupial (2008), até Cem Metros Sereia do Casa Ocupada (2010), passando por Putos Bons do Sirumba (2016) e pela rotineira Amor Combate do Olhos de Mongol (2006).


Fez-se uma casa no Lux Frágil. Com Linda Martini, faz-se uma casa em qualquer lugar. Linda Martini é regressar a casa, regressar ao rock que nunca se foi verdadeiramente embora, regressar ao suor inesperado e às pernas pesadas de quem se atira de coração à energia da música portuguesa. Que venha mais uma década.

Fotografia: Miguel Rocha
Linda Martini: Fez-se uma casa no Lux Frágil Linda Martini: Fez-se uma casa no Lux Frágil Reviewed by Carina Soares on março 19, 2018 Rating: 5

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