Rock in Rio 2018: O primeiro dia
O primeiro dia da 8ª edição do Rock in Rio Lisboa arrancou com um sol escaldante, que não foi suficiente para afastar os festivaleiros, espalhados pelos espaços da Cidade do Rock. Desde Anavitória, a passar por Bastille, sempre com um pé à espera de Muse, foi assim que se viveu o Parque da Bela Vista.
Dos showcases FNAC para o Music Valley, Anavitória foram um pequeno sol no fim de tarde, aquecendo o coração daqueles que acompanhavam timidamente (ou não!) as suas músicas. A dupla apresentou o seu álbum homónimo e relembrou o porquê de ser um dos maiores talentos do panorama brasileiro da atualidade. Num espetáculo marcado pela calma nas vozes e pela cumplicidade tão característica, Ana e Vitória transformaram o Music Valley num espaço intimista, quase como se, nesse momento, fossemos apenas um grupo de amigos a ouvir indie folk brasileiro. Não foi surpreendente que Trevo tenha sido um dos destaques principais, tocada não só no Music Valley, mas também no Palco Mundo, com Diogo Piçarra. Um daqueles concertos feitos para ter a cabeça nas nuvens, o ritmo nos ombros e um sorriso de orelha a orelha.
Três mulheres que poderiam muito bem definir a expressão girl power. Nada mais, nada menos que as irmãs HAIM, que pisaram pela segunda vez os palcos portugueses. Apesar de o público ter deixado a desejar, não colaborando com a energia do trio, estas fizeram o que melhor sabem fazer: foram senhoras do indie rock, ocuparam o Palco Mundo e fizeram-no tremer. Mesmo para aqueles que não conheciam os trabalhos da banda, Days Are Gone (2013) e Something To Tell You (2017), foi complicado não ficar contagiado pela agitação que trouxeram. Do lado dos fãs, muitos foram os gritos daqueles que esperavam há 4 anos pelo regresso desta família a Portugal. Dançaram, gritaram, acompanharam todas as letras. Want You Back e Little of Your Love foram os principais temas que fizeram o público ressuscitar, acompanhando-as com palmas. Para terminar a sua primeira presença na capital lisboeta, mostraram o poder da percussão, numa coreografia rítmica ligada à ponta dos dedos, através de baquetas que pareciam estar à espera de voar. Não voaram e foi dessa maneira que se despediram, mas nós esperamos que voltem a querer voar para o nosso país.
Acarinhados pelo público, foi também no Palco Mundo que Bastille foram recebidos. A banda britânica regressou aos palcos dos festivais de verão nacionais e, como já acostumaram os festivaleiros, não estiveram quietos durante um segundo. Dan Smith arrancou mais um espectáculo, num "português de merda". Com especial destaque para as músicas que compõem Bad Blood (2013), o cantor soube puxar pelo público, que o acompanhou a plenos pulmões temas como Rhythm of the Night ou Things We Lost in the Fire e não deixou de atender ao que lhe era pedido: "Salta! Salta!". Não faltou a mensagem política contra "as pessoas que são como Donald Trump", com o tema The Currents a expôr o lado negro daqueles que abusam do poder que lhes é dado. Para acabar em beleza, nada melhor que uma versão de Pompeii com direito a piano, na qual todos cantaram um dos temas que mais contribuiu para o sucesso da banda.
De volta ao Music Valley, momentos antes da chegada dos cabeças de cartaz do dia, foi a vez de Moullinex subir ao palco. O músico veio apresentar o seu último trabalho, Hypersex (2017), com um espetáculo brilhante, efusivo e inclusivo. Durante cerca de uma hora, o público presente deixou-se levar pela eletrónica contagiante do artista. Aquela parte do recinto foi transformada numa pista de dança: até Ghetthoven desceu do palco para se juntar às pessoas e acompanhá-las freneticamente. Para terminar em grande e arrefecer depois desta festa escaldante, Moullinex mergulhou na piscina das Somersby Pool Parties.
O momento mais esperado pela multidão: Muse. Estaríamos a mentir se disséssemos que ninguém estava ansioso pela chegada dos britânicos; muito pelo contrário, podemos até afirmar que quase todos os presentes os aguardavam com expectativas elevadas. Já com um atraso de dez minutos, a banda entrou em palco ao som de Thought Contagion e foi o suficiente para incendiar todo o recinto. Um público homogéneo, que gritou e manteve sempre em haste os seus sticks luminosos. O silêncio não fez parte do reportório da banda, muito menos dos seus fãs: se não tivesse sido por Supermassive Black Hole, talvez o tema mais reconhecido pela generalidade dos ouvintes, teria sido por Plug In Baby ou Psycho. Apesar de todos os aspectos positivos, a voz de Matthew Bellamy pareceu não estar nos seus melhores dias, o que não impediu que rebentasse (mais uma vez) a escala de satisfação dos seus fiéis seguidores. Não seria um concerto de Muse se não tivesse havido uma guitarra partida e na Cidade do Rock isso não foi excepção.
Edição: Carina Soares
Fotografia: Iris Cabaça
Rock in Rio 2018: O primeiro dia
Reviewed by Carina Soares
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junho 25, 2018
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