iridescence dos Brockhampton: a ressurreição da boy band americana
Os Brockhampton lançaram o seu quarto álbum, iridescence, no
dia 21 de setembro. O novo trabalho foi gravado nos estúdios Abbey Road, em
Londres, em apenas dez dias. O primeiro com o selo da RCA Records e, supostamente,
é a primeira parte da próxima trilogia do grupo “The Best Years of Our Lives”.
Em iridescence, a boy band mostra porque é que continua a ser a mais inovadora.
Após o fim da era Saturation, um novo disco era bastante
aguardado. Team Effort viria a seguir, mas foi adiado. Depois, Puppy seria
lançado em junho, mas também foi adiado devido às acusações de abusos sexuais e
emocionais por ex-namoradas de Ameer Vann. O que levou à sua saída da banda.
Desta forma, iridescence foi feito do zero em Londres.
Em iridescence, os versos nas músicas são
divididos mais justamente. Na trilogia Saturation, muitas vezes ouvia-se mais
Ameer Vann do que os restantes membros e bearface era um dos que participava
menos, visto que, “WASTE”, “SUMMER” e “TEAM” foram os temas que na era
Saturation teve mais destaque. Em iridescence, isso mudou para melhor. Pois,
todos têm a sua parte e direito à sua perspetiva nos novos temas. Até se ouve
Ashlan Grey, o fotógrafo, Jabari Manwa e Romil Hemnani, os produtores, no final
de “FABRIC”. Além de ser o momento de brilho de bearface, também é o de Joba.
Os seus versos agressivos em “J’OUVERT”, “WEIGHT” e “DISTRICT” são essenciais
para as canções terem mais poder. O flow natural de Dom McLennon, a inquietude
de Merlyn Wood, a a honestidade de Matt Champion e o sentimentalismo de Kevin
Abstract são o que fazem um progresso musicalmente para o grupo. Isto também
originou colaborações com Jaden Smith (“NEW ORLEANS”), serpentwithfeet (“TONYA”)
e um sample de “Dance For You” de Beyoncé (“HONEY”).
Quanto às letras, abordam vários temas atuais,
tais como, depressão, fama, morte, amor, dinheiro, drogas. Temas que foram expressos
anteriormente na era SATURATION, mas que aqui surgem mais fortes. Na segunda
música, “THUG LIFE”, Dom McLennon é o primeiro a falar sobre depressão no seu
verso («Depression still an uninvited guest, I'm always accepting»). A seguir, Joba em “DISTRICT” berra «Praise
God, hallelujah! I'm still depressed/ At war with my conscience, paranoid, can't find that shit». Fama e
dinheiro são outros assuntos recorrentes quando em “NEW ORLEANS” Kevin Abstract
diz repetidamente «Tell 'em boys, don't run from us/ I been down too long,
cousin/ I been down too long, brother/ Tell the world, I ain't scared of
nothing/ Tell the world, I ain't scared of jumping» e a parte de Matt Champion em
“DISTRICT” «Money walk and money talk, but money no make comfortable». Em “HONEY”,
Dom McLennon fala sobre problemas raciais e morte: «'Cause they turn the other
cheek when our niggas start to die/ When our women start to die, when our
children start to die». Ao mesmo tempo, as drogas voltam a ser faladas neste
álbum no verso de Joba em “J’OUVERT” («Couldn't last a day inside my head/ That's
why I did the drugs I did») e no de Champion em “SAN MARCOS” «Big old whiskey
on them icy rocks/ Flood down some veins like oxy does». Abstract também
mostra o seu lado mais sentimental em “SOMETHING ABOUT HIM” que é uma
dedicatória ao seu namorado Jaden Walker e “WEIGHT” onde canta sobre a sua
sexualidade e as saudades que tem da sua vida antes do estrelato. Assim, os tópicos
das canções ao logo do álbum são quase todos identificáveis para quem os ouve.
Já as melodias são, igualmente, diferentes
do que fizeram antes. Os finais e princípios das músicas funcionam como
transições para a seguinte. O que torna a experiência auditiva ainda melhor e o
disco mais coeso, como, de “NEW ORLEANS” para “THUG LIFE” e de “J’OUVERT” para “HONEY”.
Nota-se que deram atenção a este pormenor. Outra coisa que introduziram foi uma
orquestra. As canções soam mais bonitas com instrumentos clássicos e com um
coro a cantar. A parte do London Community Gospel Choir em “SAN MARCOS” é um dos momentos mais
emocional do álbum e em “THUG LIFE” juntamente com a voz de bearface é um dos
mais surpreendentes.
iridescence é mesmo a ressurreição dos Brockhampton onde se reinventam, conseguem construir o seu próprio som e estão de volta à vida de boy band. Depois de tudo o que se passou e terem ficado sem um membro, concretizaram mais outra vitória e apenas se pode esperar pelos próximos dois álbuns desta suposta trilogia.
Texto: Iris Cabaça
iridescence dos Brockhampton: a ressurreição da boy band americana
Reviewed by Watch and Listen
on
setembro 29, 2018
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