Super Bock em Stock 2018: ser prateleira no Tivoli de Tim
A primeira paragem foi na Sala Santa Casa para o concerto de Éme. João Marcelo fez-se acompanhar por Moxila (flauta), Lourenço Crespo (teclado) e Miguel Abras (baixo). Enquanto chovia lá fora, Éme cantava letras como «viver na Lisa não dá» e «remar o dia inteiro, ir dar ao Barreiro», com melodias folk e pop. As improvisações que Lourenço Crespo fazia nas teclas tornaram o espetáculo mais animado, e proporcionaram momentos bons. Assim foi bem passado este sábado à tarde.
Tirar os lenços de papel do bolso teria sido a forma de certa de pertencer à solidão de Tim Bernardes. O brasileiro subiu ao palco numa atmosfera intimista, com instrumentos a rodeá-lo como velhos amigos e um feixe de luz amarelado a revelar-se o conforto no meio da escuridão. Depois de quatro concertos de norte a sul em junho deste ano, o músico regressou ao Teatro Tivoli perante um público silencioso nas palavras, entregue à emoção arrebatadora de Tim. Para além de temas do álbum Recomeçar (2017), como Ela, Tanto Faz e Quis Mudar, entregues de corpo e alma ao público, deliciou-nos com covers de Changes dos Black Sabbath, Luzia Luluza de Gilberto Gil e Paralelas de Belchior. Foi como conversar de coração aberto com um amigo próximo, como ser um livro na prateleira do quarto de sempre. E que bom é ser prateleira num Tivoli cheio de Tim Bernardes.
Do outro lado da Avenida, no Cine-teatro Capitólio, a francesa residente em New York, Lolo Zouaï estreou-se em Portugal e foi uma das melhores surpresas do festival. Apesar de ter dado um concerto curto, com o pouco repertório que tem por agora, conseguiu seduzir o público com a sua voz suave e ritmos inspirados no R&B dos anos 90 e no hip-hop. Desert Rose, Challenge e Brooklyn Love foram alguns dos temas onde demostrou ser uma artista em ascensão. A felicidade estampada na sua cara tornou tudo ainda melhor. Terminou com High Highs to Low Lows, uma música que lhe mudou a vida, segundo a própria. Pediu às pessoas para cantarem o refrão, e algumas pessoas na primeira fila concretizaram o seu desejo. No final, foi pena não se ter ouvido mais músicas de Zouaï.
Conner Youngblood tentou falar português e acabou por conquistar o coração dos portugueses. No meio da agitação que tão bem caracteriza o festival que invade as ruas de Lisboa a cada novembro, Youngblood soube a tranquilidade. A voz inicialmente robotizada antecipou um espectáculo de electrónica que envolveu o público numa atmosfera calma, sem grandes excessos, com o texano a contar-nos sobre a vida passada em aviões. Tocou músicas como The Birds of Finland ou Lemonade do álbum Cheyenne (2018).
Reijje Snow encheu o Capitólio e deixou para trás filas de fãs que pouco faltaram para atingir a Avenida. A palavra confusão foi feita para descrever este concerto de muitas maneiras: a confusão do público nos primeiros quinze minutos perante o DJ set e a ausência do irlandês ou a confusão dos moshes enérgicos que o artista tão bem soube incentivar. Há ordem na confusão e Reijje soube aproveitar isso mesmo. O espectáculo acabou por tornar-se um pouco repetitivo, com base num trap a soar semelhante e alguns gritos de ordem que fizeram tremer a casa, mas não a fizeram cair.
Para se terminar o festival da melhor forma, os britânicos Jungle pisaram o palco do Coliseu dos Recreios. A banda voltou a Lisboa, após ter passado pela capital em 2016 no Lisb-on Jardim Sonoro, e pelo Vodafone Paredes de Coura no passado mês de agosto. Quem viu o último, sabia que iria ser um dos concertos imperdíveis deste último dia. O alinhamento foi semelhante ao do festival minhoto, passando pelos dois álbuns da banda, Jungle (2014) e For Ever (2018). Começaram logo com dois temas novos (Smile e Heavy, California), e, em seguida, tocaram alguns mais antigos como The Heat, Julia e Platoon. No princípio, soltaram a palavra «fiesta», mas compensaram ao dizerem que estavam felizes por estarem a atuar na cidade. Perto do final do espetáculo, o grupo saiu do palco duas vezes devido a uma falha técnica. Porém, voltaram em força com Casio e House in LA. Os seus falsetes em perfeitas harmonias, as letras sobre amor, e os ritmos que misturam funk, eletrónica, soul e pop conquistaram o público que encheu o Coliseu só para os ver. Foi um regresso merecido e justificado dos Jungle ao nosso país e uma boa maneira de se sair com um sorriso na cara no fim.
Fotografia: Iris
Texto: Carina e Iris
Super Bock em Stock 2018: ser prateleira no Tivoli de Tim
Reviewed by Carina Soares
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novembro 27, 2018
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