NOS Primavera Sound: quando o reggaeton invade o Parque da Cidade
O segundo dia do NOS Primavera Sound trouxe o Sol e um recinto visivelmente mais cheio. Contou com nomes como Courtney Barnett, James Blake, JPEGMAFIA e J Balvin.
A Surma estreou-se no festival a abrir o Palco Seat. Ao vivo, costuma atuar sozinha, mas desta vez trouxe consigo um músico para tocar violoncelo e teclado, e bailarinos para fazerem dança performativa. Estas adições tornaram o espetáculo, que contou com uma boa afluência do público apesar de ser ao mesmo tempo que Profjam, ainda melhor. A cantora apresentou o seu disco de estreia Antwerpen, editado há dois anos, e deliciou os espectadores com com os seus temas experimentais que percorrem a eletrónica e o jazz.
A Aldous Harding voltou a Portugal, após ter passado pelo Vodafone Mexefest agora Super Bock em Stock, para apresentar o seu mais recente álbum Designer, editado este ano. Com a sua estranheza e o seu folk encantou o público.
Se o vosso plano ideal para o Mês do Orgulho LGBT passa por ver uma mulher lésbica com um domínio incrível da guitarra, chegaram ao sítio certo: Courtney Barnett veio em segundo lugar ao Palco NOS. A cantora não é de muitas palavras, fala através das letras e dos acordes da guitarra. Falou de amor com Need a Little Time e falou da dura realidade de ser mulher num tom feminista com Nameless, Faceless do álbum Tell Me How You Really Feel (2018). O eixo dos concertos de Courtney Barnett está na energia da guitarra, que agarra como se a sua vida dependesse disso. É uma força da natureza conduzida pelas vibrações das cordas. Terminou a tour europeia no Porto.
O nome mais controverso desta edição: o colombiano J Balvin veio invadir o Parque da Cidade com os ritmos do reggaeton. Muitos juravam a pés juntos que o recinto ia ficar vazio, mas viram a sua teoria cair por terra, não tivesse sido talvez o concerto mais cheio do festival até agora. A bandeira da Colombia já abanava nas mãos de um grupo à direita, um cartaz de cores fortes com tom de declaração de amor ("qué pena me daría no tenerte en mi vida, vida mia") era segurado bem alto por uma fã. Balvin subiu ao Palco NOS com Reggaeton para mostrar que o reggaeton está nas bocas do mundo. Um espectáculo carregado de efeitos visuais, completado por nuvens de traços humanizados ou cabeçudos inspirados em artistas como Bad Bunny ou Cardi B. O artista entrou em força com uma espécie de medley que combinou alguns dos seus temas mais conhecidos como Machika (um feat com Anitta) ou Contra La Pared (feat com Sean Paul). O concerto passou pelos maiores êxitos numa fase inicial, contribuindo para um pico de energia imediato e muita dança por todo o relvado. A oportunidade de ouvir todos os hits que fazem parte das soundtracks de verão de muita gente surgiu durante mais de metade do concerto: X, Mi Gente, Machika, Con Altura ou Downtown, que teve direito a uma lap dance. Algumas musicas menos conhecidas para o público não fizeram o cantor perder a energia: Sensualidad do álbum Vibras (2018) ou No Es Justo (uma colaboração com Bad Bunny e Prince Royce) foram cantadas pelos maiores conhecedores. Uma das surpresas da noite foi uma versão espanhola do funk Bum Bum Tam Tam (originalmente do MC Fioti). J Balvin dominou o palco e mostrou-se surpreendido e agradecido pelo envolvimento do público, que reagiu intensamente durante o concerto todo. Desceu do palco e ainda tirou algumas selfies com os fãs da primeira fila. Terminou com Contra La Pared e deu voz à maior festa desta edição.
O Branko veio substituir a Kali Uchis, por esta ter cancelado, e honestamente deveria ter sido logo confirmado. O DJ e produtor trouxe a Enchufada na Zona de Lisboa para o Porto e meteu a enchente de pessoas que se encontrava no Palco Super Bock a dançar. As músicas do seu novo álbum Nosso, como, Sempre e Tudo Certo fizeram parte do alinhamento. Amours d'Été terminou o concerto da melhor forma. Apesar de ter sido uma substituição, Branko soube dar conta do recado e pertencia mesmo neste cartaz.
O Branko veio substituir a Kali Uchis, por esta ter cancelado, e honestamente deveria ter sido logo confirmado. O DJ e produtor trouxe a Enchufada na Zona de Lisboa para o Porto e meteu a enchente de pessoas que se encontrava no Palco Super Bock a dançar. As músicas do seu novo álbum Nosso, como, Sempre e Tudo Certo fizeram parte do alinhamento. Amours d'Été terminou o concerto da melhor forma. Apesar de ter sido uma substituição, Branko soube dar conta do recado e pertencia mesmo neste cartaz.
James Blake veio acalmar os ânimos no Palco NOS. Sentado ao piano, trouxe Assume Form, que dá nome ao seu mais recente álbum, lançado este ano. A atmosfera dos concertos de James Blake aproxima-se de um celestial arrebatador, que faz sentir todas as emoções à flor da pele. O artista tem a capacidade de nos transportar para um estado de transe e não precisa de explicação. Os jogos de luz em conjunto com o piano e os sintetizadores tão depressa nos conduzem para um clube underground ou para uma sala com lareira. Além de Limit To Your Love, tocou músicas como Barefoot in the Park (uma colaboração com Rosalía, presente no terceiro dia do festival) e Are You In Love. Deixou o palco do Primavera com Missing Out e uma mensagem de resistência e apelo à saúde mental e à importância de pedir ajuda.
Apesar
de ser ao mesmo tempo de James Blake, o Palco Pull&Bear
encontrava-se cheio de pessoas ansiosas para verem a estreia de JPEGMAFIA
em Portugal. Mal começou o concerto, ouviu-se e sentiu-se a energia
poderosa do rapper com atitude punk. Falar de rapper e punk na mesma
frase parece disparatado, mas a realidade é que JPEGMAFIA consegue fazer
a mistura desses dois estilos, o que se nota mais ao vivo do que em
estúdio. De um lado para o outro a gritar os seus versos e a atirar-se
para o público a fazer crowdsurfing, fez tudo o que era esperado dele
dando um concerto icónico que provavelmente nunca irá voltar a acontecer
igual ou semelhante naquele palco. A meter os seus beats sozinho, num
multi-tasking incrível, em pouco menos de uma hora comandou a plateia
inteira desde a primeira até à última fila. A música Vengeance
Vengeance, a colaboração com Denzel Curry e ZillaKami, deu início ao
concerto. A seguir, Real Nega e Thug Tears contribuíram para a loucura
que foi crescendo ao longo do espetáculo. How To Build A Relationship, o
tema que fez com Flume, também entrou no alinhamento. Houve tempo para
um freestyle, que é hábito fazer nos seus últimos concertos, e também
para uma dedicação controversa para um músico polémico que ele odeia, Morrissey, com I Cannot
Fucking Wait Until Morrissey Dies. Quase no final, mandou as pessoas
baixarem-se e desceu do palco para cantar ao pé delas. No fim, notou-se
que Peggy acabou o concerto feliz com a sua estreia no nosso país e não
desapontou, como disse que o faria no princípio. Já SOPHIE fechou o Palco Pull and Bear com um DJ set que atraiu os festivaleiros mais resistentes.
Texto: Carina Soares & Iris Cabaça
Fotografias: Iris Cabaça
NOS Primavera Sound: quando o reggaeton invade o Parque da Cidade
Reviewed by Carina Soares
on
junho 08, 2019
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