Super Bock Super Rock 2019: os migos de Janelle Monáe
O terceiro e último dia do Super Bock Super Rock foi mais dedicado ao hip-hop, com Migos como cabeças de cartaz e também contou com Janelle Monáe, Masego, Superorganism e Disclosure. O festival que voltou a assentar poeira no Meco, começou e acabou em grande.
Desde 2016, quando Kendrick Lamar atuou na MEO Arena (o local anterior do evento), que o festival nos tem habituado a um dia com muitos nomes de hip-hop e já passaram por lá Future, Travis Scott e este ano os Migos. Mas não foi só com hip-hop que se terminou esta edição.
Pedro
Mafama abriu o Palco LG by SBSR.fm neste último dia de festival. Acompanhado
pela DJ Kamila, Jazigo abriu o concerto para uma plateia composta, mas a reagir
pouco à mistura de géneros musicais dos seus temas. Conseguiu puxar pelo
público e dar bem a volta com as suas tarraxas. Como Conan Osiris, que atuou no primeiro dia, também ele junta estilos improváveis como fado, auto-tune, trap, ritmos africanos e tudo o que se possa imaginar que não funcione, ele consegue criar um sentido. Igualmente, invoca o futuro da música nacional. Apenas com dois EPs, Má Fama (2017) e Tanto Sal (2018), tocou cerca de 45min, sendo que, Arder Contigo e Lacrau fizeram parte da setlist. Terminou com a eufórica Como Assim e a certeza de que a sua música inovadora é uma das interessantes dos últimos tempos da música nacional.
No
Palco EDP foi a vez de Rubel voltar a atuar em terras lusas. Após se ter
estreado no Musicbox em agosto do ano passado e ter feito uma pequena tour pelo
país entre março e maio deste ano, foi a vez de ir até ao Meco. As suas músicas
melancólicas e serenas resultaram bem neste final de tarde com um público
composto e ansioso por o ver. Acompanhado pela sua banda e com a sua guitarra,
tocou temas de Pearl (2015), como, O Velho e o Mar e Quando Bate Aquela
Saudade, e ainda Colégio e Mantra de Casas (2018). A canção Partilhar foi a que
arrancou mais e maiores sorrisos da plateia. Um concerto curto, mas que serviu
para matar saudades do artista brasileiro.
Os
Superorganism entraram em palco, um pouco atrasados, cobertos de glitter e
fazendo uma pequena representação. A partir daí, soube-se que ia ser um
concerto divertido e foi mesmo. SPRORGNSM deu início a esta festa, e seguiram-se temas do álbum homónimo de estreia, editado em março de 2018, como, Night Time, Relax e Nobody Cares. Também se ouviu a música Hello Me & You da banda sonora do filme The Lego Movie 2: The Second Part. A vocalista Orono Noguchi passou o concerto todo a meter-se com o público, inclusive pessoas nas primeiras filas e outras mais longe, o que trouxe um ambiente ainda mais animador e intimista. Tendo dito que tinha sido o seu preferido de toda a tour que fizeram este ano. Quer seja verdade ou não, conseguiu agarrar bem no público. Everybody Wants
to Be Famous e Something for Your M.I.N.D. deram por terminado o concerto.
Masego, que regressou a Portugal após ter atuado no Super Bock em Stock do ano passado, era um dos nomes mais aguardados deste e provocou uma das maiores enchentes no Palco EDP. Arrancou o concerto com Tadow, que tinha sido ouvida na noite anterior no concerto de FKJ, e seguiram-se músicas do álbum de estreia Lady Lady (2018) e algumas do EP The Pink Polo (2016). A junção que faz entre trap, house e jazz deixou o público em êxtase e proporcionou um lusco-fusco bonito.
A coroa da noite foi para Janelle Monáe, que trouxe o melhor espetáculo destes três dias do Super Bock Super Rock. Houve coreografias na ponta dos pés, uma voz sempre afinada, um jogo visual com o ecrã e as luzes do palco, e riffs de guitarra. Honestamente, não se percebe o porquê de Janelle Monáe não ser um nome maior em Portugal e não ter atraído mais pessoas para o seu concerto, mas quem foi à descoberta ou apenas estava a guardar lugar para Migos, de certeza que ficou surpreendido/a. A artista tratou cada música como se fosse um ato, mudando de roupa várias vezes e tendo sempre uma parte visual a causar grande impacto. Acompanhada por quatro bailarinas e uma banda maioritariamente formada por mulheres, abriu com Crazy, Classic, Life e foi o que tentou passar durante uma hora. Screwed, Django Jane e Electric Lady foram alguns dos pontos altos. A seguir, a música feminista Pynk veio representar as vaginas e tentou que o público a acompanhasse no refrão de I Like That, mas infelizmente só durou nos primeiros segundos. A norte-americana continuou a elevar a fasquia com a eletrizante Make Me Feel, dançando durante alguns minutos antes de começar a cantar "baby, don't make me spell it out for you". Ainda apresentou Cold War começando numa versão muito mais serena do que a de estúdio, dando grande atenção à sua voz e terminou com a brilhante Tightrope. A artista consegue meter R&B, hip-hop, pop e, por vezes, até mesmo rock no mesmo saco e a mistura acaba nos seus temas magnificentes. Juntando isto e as letras revolucionárias, Janelle é uma das cantoras mais importante atualmente e provou esse ponto nesta noite. Além disso, ainda fez um discurso sobre os direitos das mulheres, da comunidade LGBT+, das classes trabalhadores e sobre destituir Donald Trump da presidência dos Estados Unidos, afirmando ser "a queer black woman from Kansas". Portanto, uma voz da resistência a lutar pelo mundo melhor torna-a ainda mais especial. Assim, foi um concerto inesquecível com tudo que se espera de uma grande estrela e muito mais.
O nome que trouxe mais pessoas até ao Meco neste último dia foi Migos. O trio formado por Quavo, Takeoff e Offset arrastou uma grande multidão para os ver. Mal o DJ Durel entrou em palco apenas para aquecer durante um bocado até à entrada do trio de Atlanta, já a loucura estava instalada com pessoas aos berros, a desmaiarem e ansiosas pelo concerto. Quando chegaram, ficou tudo em histeria. Com Quavo claramente a dominar, trouxeram auto-tune, back tracks, fogo no palco e dispensaram cada tema rapidamente. Não foi nada que nunca se tenha visto num concerto de hip-hop, mas os fãs pareceram gostar e o é o que interessa. Os seus hits Walk It Talk It, Narcos e Bad and Boujee arrancaram mais gritos por parte do público. Também tiveram direito a Janelle Monáe a dançar no fosso durante o concerto. No final, foram-se embora sem uma única palavra de agradecimento ou semelhante, cumprindo o seu estatuto de cabeças de cartaz.
Se querem fechar bem um festival, ou neste caso o palco principal, então os Disclosure são sempre a solução. Os irmãos Guy e Howard Lawrence são amigos do Super Bock Super Rock e atuaram lá três vezes nestes últimos cinco anos. A primeira vez também foi no Meco, por isso, sim, fez todo o sentido regressarem. Desta vez foi em formato de DJ set, mas tocaram alguns dos maiores êxitos da sua carreira alternando com alguns remixes, como You & Me de Flume. When A Fire Starts To Burn e F for You deram início à festa. Num set de cerca 1h20min, tornaram o solo do festival numa pista de dança. Também se ouviu Latch com Sam Smith e Help Me Lose My Mind com os London Grammar. Desta forma, foi um belo set para fechar o festival em grande e dançar-se até à última com a house do duo britânico.
O Super Bock Super Rock conseguiu, novamente, ter um cartaz para todos os gostos, com várias representações de géneros musicais diferentes, com artistas distintos e muitas coisas novas para se descobrir. E é assim que deve continuar a fazer. O festival volta ao Meco em 2020 nos dias 16, 17 e 18 de julho.
Super Bock Super Rock 2019: os migos de Janelle Monáe
Reviewed by Watch and Listen
on
julho 24, 2019
Rating: