Vodafone Paredes de Coura 2019: do amor australiano às emoções trazidas de Ohio
A 27ª edição do Vodafone Paredes
de Coura abriu portas a 14 de agosto, trazendo de volta a Coura alguns dos
nomes já conhecidos pelo recinto e por alguns dos festivaleiros mais velhos. Mazarin
abriram o palco Jazz na Relva, com os olhares atentos dos ainda poucos festivaleiros
que paravam à beira do rio Taboão.
Bed Legs subiram ao palco
principal ao início da tarde, ainda o sol estava longe de se pôr, para “cumprir
um sonho”. De regresso a Paredes de Coura, alguns anos depois de terem atuado no festival, a banda bracarense não escondeu o entusiasmo e emoção com quem a
eles se juntou ao fundo da colina.
Não tardou a chegar Julia
Jacklin, que veio apanhar o entusiasmo que Bed Legs fizeram surgir. A australiana
de 28 anos tem já dois álbuns de estúdio e a voz doce contagiou o coração de
todos. Olhares atentos, murmúrios a acompanhar as palavras e um ambiente quase
mágico, guiado ao som das melodias calmas e românticas de músicas como “Don’t
Know How to Keep Loving You” ou “Comfort”
Foi no cair da noite que
Boogarins voltaram a trazer a sua ambiência dreamy, quente e sempre muito
brasileira. O fresco que se sentia longe daquele palco não existiu neste
concerto: a luz, os sorrisos dos membros da banda, as pessoas, tudo contribuiu para ainda outro concerto
memorável da banda que nos visita desde 2014. Contudo, foi a primeira vez que tiveram um destaque tão grande num festival nacional por terem atuado no palco principal, no começo da noite, e para tantas pessoas. Vieram bem preparados e com um novo álbum, Sombrou Dúvida, lançado este ano para apresentarem. Também tocaram temas mais antigos, como, "Lucifernandis". Não foi o melhor concerto deles no nosso pais, mas foi o mais especial.
E se o cartaz do primeiro dia do
festival esperava e se preparava para receber The National, nem por isso deixou
para Parcels menos espaço para brilharem, que no passado atuaram no Super Bock Super Rock. Saíram da Austrália, de Berlim e de
tantas décadas do século passado, mas foi no presente Paredes de Coura que nos
transportaram a outra realidade – uma muito pessoal, alegre, mexida e mágica. Entre
os temas mais conhecidos como “Lightenup” ou “Overnight” houve espaço para um
reportório variado e ainda um pouco de Jorge Palma – um rádio antigo e a “Encosta-te
a Mim” marcaram assim o penúltimo concerto da primeira noite.
“Tieduprightnow” fechou o
concerto e atingiu o climax que já se esperava de um concerto com aquela energia
– alegria, dança, entrega e muito calor, num recinto cheio de uma ponta à
outra.
Os The National já não são
novidade em Portugal. A sua música também não é de agora, e muito menos foi
esta a sua primeira vez em Coura. Mas aquilo que fizeram, a várias mãos e vozes,
transformou a primeira noite numa das mais especiais do festival inteiro, por
tudo o que nos fez sentir. A setlist percorreu todo o percurso da banda, desde
o último álbum aos que trouxeram quando pisaram o palco courense pela primeira
vez em 2005.
Saltou-se entre “Bloodbuzz Ohio”, “Guilty Party”,
“The System Only Dreams in Total Darkness” e “Light Years”. A emoção foi
diferente em cada música, a entrega de Matt Berninger e a dedicação de toda a banda foi
constante para todas. Culminou-se com três das mais fortes e melancólicas
canções, que juntaram todo o público num uníssono que não se encontra muitas
vezes.
“Terrible Love” abriu o apetite e as lágrimas que “About Today” soltou,
num momento tão particular e intenso que fez sentir que ali à volta nada mais
existia. "Vanderlyle Crybaby Geeks" fechou o concerto e o Palco Vodafone por essa
noite, e relembrou-nos a cada verso – cantados quase exclusivamente pelo
público e ao som de apenas duas guitarras acústicas – do que significa voltar
aos sítios onde se foi feliz. Paredes de Coura e The National, em 2005 e agora,
um amor muito português e que poucos tiveram a sorte de viver duas vezes.
Vodafone Paredes de Coura 2019: do amor australiano às emoções trazidas de Ohio
Reviewed by Carolina Alves
on
agosto 21, 2019
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