Super Bock em Stock 2019: a grandeza de Michael Kiwanuka
Os dois dias mais corridos do ano voltaram à Avenida da Liberdade, em Lisboa, de 22 a 23 de novembro. O cartaz do Super Bock em Stock deste ano foi feito, mais uma vez, com os próximos nomes que serão reconhecidos na música internacional e nacional. Luís Severo, Marinho, Michael Kiwanuka e Nilüfer Yanya foram alguns dos nomes que preencheram o primeiro dia.
A nossa viagem começou na Sala Ermelinda Freitas (Maxime) para o concerto dos Loyal. O grupo britânico veio meter o público português a dançar logo cedo com os seus temas electro-pop que lembram um bocado os Jungle, que atuaram no festival no ano passado. Este concerto foi uma espécie de pré-after por volta das 19h, que deixou as pessoas contagiadas pela energia em palco dos Loyal. Apenas com alguns singles, um dos mais recentes, "Crave It Still", não faltou no alinhamento. O espetáculo durou pouco tempo, mas deu para aquecer durante um bocado.
Continuámos até ao Teatro Tivoli BBVA para vermos Luís Severo, que já tinha passado pelo festival e pela mesma sala em 2017 ainda quando era Vodafone Mexefest para um concerto só de voz e piano. Dois anos depois, regressou com um novo álbum para apresentar, O Sol Voltou, e um espetáculo diferente. Desta vez, trouxe a guitarra, o piano e três músicos: Sara Coroado (violoncelo), Nuno Coroado (contra-baixo) e Rebeca Csalog (harpa). O Tivoli foi ficando cheio aos poucos, e o músico começou por tocar "Planície (Tudo Igual)", "Amor e Verdade" e "Joãozinho" apenas com a sua guitarra. No tema "Rapaz", os músicos entraram em palco e tudo mudou. A harpa, o contra-baixo e o violoncelo tornaram as músicas ainda mais bonitas ao vivo. Além disso, Luís mostra sempre várias facetas em palco e tanto está a cantar sobre amor, como está a fazer uma piada para aliviar a tensão, e é uma das razões que torna os seus concertos tão únicos e aqui não foi exceção. Terminou com uma homenagem ao falecido José Mário Branco e escolheu "As Canseiras Desta Vida" para fazer a sua versão.
De volta à Sala Ermelinda Freitas, foi a vez de Marinho subir ao palco. A artista veio apresentar o seu álbum de estreia, ~. Após ter começado com uma introdução a tocar teclado, seguiu para "I Give up and It's Ok". Os temas "Ghost Notes", "Freckles", "Window Pain" e "Joni", que terminou o concerto, fizeram parte do alinhamento. Monday também se juntou a Marinho para cantarem "Not You". Também houve espaço para alguns covers como "In Spite of All the Damage" das The Be Good Tanyas e "Motel Blues" de Loudon Wainwright III. O seu folk-rock funciona bem ao vivo, e provou-se isso mesmo.
Michael Kiwanuka era, provavelmente, um dos nomes mais esperados deste dia tanto que encheu o Coliseu dos Recreios, criando filas à entrada do mesmo, e rapidamente se percebeu o porquê. O britânico editou um novo álbum no mês passado, Kiwanuka, mas não foi o que teve mais destaque. "One More Night", do disco Love & Hate, deu o arranque a um dos melhores momentos da noite. As expectativas já estavam um pouco elevadas, mas Michael conseguiu superá-las. Cada acorde, cada nota, cada altura em que falava com o público eram certeiros e valiam-lhe sempre montes de aplausos. Se fechássemos os olhos para apenas ouvirmos, a sua voz soava tudo tal e qual às versões de estúdio. A sua banda excelente ajudou a que Michael cumprisse a sua missão de espetáculo da noite. O coro foi uma ótima adição ao vivo, principalmente quando uma das duas coristas conseguiu alcançar uma nota altíssima. "You Ain't The Problem" e "Hero" foram apenas as únicas músicas de Kiwanuka que fizeram parte da setlist, infelizmente. Contudo, pode ser uma razão para voltar a tocar em Portugal. O álbum Love & Hate (2016) teve o foco principal durante esta hora. Quanto a "Black Man In A White World", o poder deste tema ecoou pelo Coliseu inteiro até ao piso mais elevado. A mistura brilhante que faz entre soul, folk, rock e R&B consegue ser ainda mais sentida ao vivo, e mostrou que o sabe fazer maravilhosamente. "Home Again" e "Cold Little Heart", que são as suas músicas mais conhecidas, foram as que meteram o público a cantar as letras do início ao fim. Tudo acabou com "Love & Hate" e a certeza da grandeza de Michael Kiwanuka que ficou espalhada pela sala.
A nossa penúltima paragem foi no Cinema S. Jorge para assistirmos ao concerto de Nilüfer Yanya, que atuou em Portugal pela segunda vez este ano depois de ter passado pelo NOS Primavera Sound. Assim, coube a Lisboa receber a artista também vinda de Inglaterra. A seguir a Michael Kiwanuka, era difícil recuperar-se, mas Nilüfer também esteve bem. A artista tocou algumas músicas do seu extenso álbum de estreia Miss Universe, durante hora que teve, numa sala esgotada para a ver. O que foi uma boa surpresa. A sua voz soa fantasticamente bem ao vivo, e nunca sai do tom nem falha uma nota. Uma voz que dá potência à junção que faz entre pop, rock, jazz e eletrónica. Tudo junto torna o seu som em algo único e que podia não resultar. Não foi de muitas palavras porque "levantámo-nos às 4h da manhã", mas nem foi necessário. Pois, os seus temas falam por si e a vulnerabilidade das letras é bastante explícita. "Paradise", "Baby Blu" e a potente "In Your Head" marcaram o concerto. Nilüfer Yanya veio mostrar que pode-se misturar vários géneros musicais diferentes para se conseguir um som especial.
O Coliseu encerrou com o DJ set de Friendly Fires que infelizmente não vieram como banda depois do cancelamento de um possível concerto no Nova Batida em setembro. O que é pena, porque já faz falta virem apresentar novas músicas. Fica a sugestão para o Super Bock Super Rock do próximo ano.
Super Bock em Stock 2019: a grandeza de Michael Kiwanuka
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novembro 25, 2019
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