Super Bock em Stock 2019: Slow J levou o Coliseu a sonhar
O Super Bock em Stock chegou ao fim com algumas estreias, consagrações e um dos concertos do ano. O último dia, 22 de novembro, contou com nomes como Curtis Harding, Orville Peck, Rapaz Ego, Slow J e Haute.
Neste segundo e último dia, começámos no Bloco Moche Lá fora (Capitólio) para Ciência Rítmica Avançada com Keso a pensarmos que iria ser um concerto do rapper portuense. Não foi só um espetáculo dele, pois trouxe rappers do norte, que fazem parte da sua plataforma Paga-lhe o Quarto, e aos poucos cada um foi entrando em palco para se juntar à família. SpaceBanana, Pibxis, Myka, Riça, M'Cirilo, Marco Ferreira e Bug foram os protagonistas do espetáculo, que podia ter sido melhor se tivesse uma linha condutora. Já Tainá na Sala EDP (Casa do Alentejo) foi tudo o que esperávamos. Uma voz doce e músicas sentidas tornaram este concerto num momento acolhedor. Janeiro também subiu ao palco para cantarem "Acontece" juntos.
Curtis Harding foi o primeiro artista a tocar no Coliseu dos Recreios nesta noite que começava a aquecer. "The Drive" iniciou uma hora de músicas sobre força, amor, tristeza, dor e prazer em riffs sensuais. A voz carregada de soul de Harding agarrou o público do início ao fim, e o concerto foi uma amostra da fantástica fusão que faz com este género musical, R&B, rock e punk. E é com todos os seus temas que se sente verdadeiramente isso. Houve momentos mais emocionais com "To Love Somebody" dos Bee Gees, outros para dançar executados por "Drive My Car", "On and On" e "Heaven's On The Other Side", e muito groove. Este regresso brilhante de Curtis Harding a Portugal terminou com "Need Your Love".
Em seguida, descemos até à Casa do Alentejo para a estreia marcante de Orville Peck no nosso país. O concerto foi numa das salas mais bonitas do festival, mas também numa das mais pequenas que não foi suficiente para deixar entrar tantas pessoas que o queriam ver. Contudo, conseguiu conjugar bem com a estética do artista. Mal meteu os pés em palco, o público que encheu o espaço aplaudiu, e notou-se logo que havia montes de pessoas ansiosas por este momento. Peck é, sem dúvida, uma das revelações da música deste ano com o lançamento do seu primeiro álbum Pony, e veio comprovar o porquê neste espetáculo. O cowboy moderno e queer da máscara deu entrada com "Big Sky", passando por "Winds Change" e «uma música sobre uma drag queen» apelidada "Queen of the Rodeo". Porém, foi com "Roses Are Falling" que mostrou o seu lado mais romântico. Revelou já ter vivido em Portugal, nomeadamente em Cascais. Debaixo do chapéu, tocou covers das músicas "Something To Brag About" de George Jones e Tammy Wynette e "Ooh Las Vegas" de Gram Parsons. O músico levou-nos numa viagem pelas estradas do deserto na América do Norte, pelo country e shoegaze que torna o seu som tão único, dando um concerto que ninguém irá esquecer tão depressa. Dito isto, é mais do que necessário que volte para um espetáculo a solo ou num festival maior.
Quase ao mesmo tempo, estava Rapaz Ego na Garagem EPAL a convite dos Capitão Fausto, numa curadoria que no mesmo dia tinha trazido Zarco. Apesar desta disputa de horários, a sala encontrava-se cheia para o receber. O projeto de Luís Montenegro (Salto), acompanhado por Guilherme Tomé Ribeiro (também dos Salto e aqui na guitarra), Rodrigo Andrade e Sousa (teclado e pandeireta) e Pedro Galvão Lucas (bateria), confirmou que tem muito para mostrar no futuro. Os singles mais recentes "Ponto Cruz" e "Vida Dupla" fizeram parte do alinhamento. Além disso, também tocou temas novos que irão fazer parte do álbum de estreia que sairá no próximo ano. As letras sobre ego, auto-estima e liberdade com melodias sedutoras funcionam sempre bem ao vivo.
O concerto da noite, e talvez do ano, chegou finalmente. Slow J piso o palco do Coliseu dos Recreios para apresentar o seu novo álbum You Are Forgiven, que foi editado em setembro sem qualquer aviso prévio, pela primeira vez em Lisboa numa sala cheia para o ver. O artista fez as coisas ao contrário, pois atuou primeiro na Altice Arena, a maior sala de espetáculos lisboeta, no Super Bock Super Rock do ano passado e depois foi a vez do Coliseu, que é muito mais pequena mas melhor, e até fez sentido. Apresentou-se em palco sem nenhuma banda, apenas com a sua voz, música de fundo e um ecrã a passar imagens relacionadas com os temas do novo trabalho, como, uma casa. Ao contrário do que fez na Altice Arena há mais de um ano, não trouxe um leque de convidados extenso. Papillon foi o único que se juntou a J para cantarem ambos "FAM". Foi pena não ter trazido Sara Tavares para o tema "Também Sonhar", mas não foi por isso que deixou de dar um concerto inesquecível. "Water" de Richie Campbell e "Às Vezes" com Nerve também foram cantadas a solo. Decidiu dedicar o concerto ao seu falecido avó, foi passando várias vezes a mensagem de "acreditem nos vossos sonhos", e ver alguém como ele a concretizar os seus em pouco tempo é verdadeiramente inspirador. Mais à frente, trouxe o momento mais emocional da noite quando chamou o seu antigo professor de música Nuno Cacho e Francis Dale para tocarem "Lágrimas" com uma guitarra portuguesa e outra clássica para uma versão mais próxima do fado desta música. "Arte", "Comida", "Serenata" e "Fome" foram as canções antigas que entraram na setlist. Durante 1h15min, Slow J trouxe-nos emoções, vulnerabilidade, versatilidade e acima de tudo uma voz poderosa acompanhada por versos certeiros. Passou o concerto sempre com um sorriso contagiante na cara e um ar de missão cumprida, conseguindo meter o Coliseu inteiro a cantar as músicas todas, tanto as antigas como as mais recentes. Um dos seus maiores hinos, "Vida Boa", encerrou o concerto com chave de ouro e com o público todo a cantar e a saltar enquanto berrava os versos «não quero uma boa vida, quero uma vida boa».
Continuámos na onda do hip-hop e subimos a Avenida até ao Capitólio para o concerto de Col3trane. Primeiro, entrou um DJ que fez um set durante uns 15min. «My name is Col3trane and I'm here to fucking party» deu o mote ao que se seguiria. Começou em força com as suas músicas que percorrem o rap e o R&B. Tentou sempre puxar pelo público e até se meteu com uma rapariga e um rapaz que estavam na primeira fila a cantarem as letras todas. Porém, os seus temas rapidamente se tornaram repetitivos e parecia que não tinha mais para dar.
O duo Haute encerrou o Coliseu e o festival. Os franceses Anna Majidson e Blasé trouxeram a sua electro-pop até ao público português. Não foi um final tão animado quanto se esperavam, mas serviu para se dançar durante um bocado. Tanto Anna como Blasé se colocam à frente com o microfone, e tanto um como o outro soam bem. Um concerto de eletrónica bem simples, mas que fez acabar a noite uma boa forma.
A edição deste ano do festival teve os bilhetes esgotados e levou cerca de 6 mil pessoas por cada dia. Volta em 2020 nos dias 20 e 21 de novembro.
Super Bock em Stock 2019: Slow J levou o Coliseu a sonhar
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novembro 26, 2019
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