Shore dos Fleet Foxes: na onda relaxante da folk

O novo disco dos Fleet Foxes, Shore, foi editado no dia do equinócio, 22 de setembro, marcando o início do outono com as suas músicas folk. Algo que não se esperava da banda de Seattle, mas que, felizmente, aconteceu.

Acompanhado por um filme realizado pelo artista Kersti Jan Werdal repleto de imagens da natureza, Shore é o quarto álbum dos Fleet Foxes. O sucessor de Crack-Up (2017) chega num ano estranho, onde a música, entre outros meios, continua a ser mais essencial do que nunca para cada pessoa conseguir ultrapassar os momentos mais difíceis. E é exatamente o que este trabalho consegue alcançar. Com uma sonoridade outonal e habitual do grupo, foi lançado na altura perfeita.

A viagem de Robin Pecknold começa a partir de "Wading In Waist-High Water" com a voz de Uwade Akhere, uma estudante em Oxford. O final interliga-se com o princípio de "Sunblind". Shore contém o som que caracteriza o grupo desde os primeiros álbuns, Fleet Foxes (2008) e Helplessness Blues (2011), mas de uma forma ligeiramente diferente. Pois, é um álbum muito mais positivo do que os anteriores, tanto nas melodias como nas ideias, que recorre a elementos da natureza. Quase como se se estivesse dentro de água a apreciar as ondas baixas e calmas enquanto se deixa ir embora as preocupações junto delas. Ainda mais, "For A Week Or Two" e "Maestranza" são mais dois temas que, novamente, estão ligados um ao outro. No final do primeiro, ouve-se pássaros no fundo e no princípio do segundo, ouvem-se os mesmos pássaros. Estes são alguns dos detalhes que ajudam a completar organicamente cada canção. Os arranjos delicados são texturizados com a voz do vocalista, e não só, ao mesmo tempo em que carregam esperança. A folk está presente só que é mais caloroso e leve.

Os assuntos das letras variam entre questões ambientais, estados mentais, celebrar a vida, homenagear pessoas que já não estão presentes, alívio, música, entre outros. "Sunblind" fala sobre as influências musicais de Robin Pecknold, como, Richard Swift, John Prine, Jude Sill, Elliott Smith, David Berman, Ian Curtis, Jeff Buckley, Otis Redding, e gravar a memória de alguém recorrendo à música. Igualmente, "Jara" é uma referência a Víctor Jara, um cantor de folk chileno que foi morto pelo exército chileno, e é também sobre ativistas, inspirada pelos protestos que começaram nos Estados Unidos do movimento #BlackLivesMatter, (Now you’re off to Victor on his ladder to the sky /And I’m left to sing it with you from my piece of the waterside). Já "I'm Not My Season" aborda o estado mental de duas pessoas que se entreajudam, fazendo um contraste entre o verão (uma fase mais feliz na vida de alguém) e o inverno (uma fase mais difícil e triste). Como diz o refrão: Though I liked summer light on you /If we ride a winter-long wind /Well time’s not what I belong to /And I’m not the season I’m in. As alterações climáticas são comentadas em "Quiet Air/Goia" (You want to go where the fire is worst /You want to watch our tower drop to the water). Em "Thymia", aborda o seu amor pela música que o acompanha há muito tempo (Have a true love, more than just an outline /Solid shape of, known it for a long time). São as letras menos pessoais que já escreveu, mas as mais abrangentes para quem as ouve.

Idealizado e escrito por Robin Pecknold, sem nenhum membro da banda que toca com ele ao vivo, conta com várias colaborações. Além de ter convidado Uwade Akhere para cantar no tema inicial e, ainda, em "Can I Believe You" e "Shore", chamou alguns amigos e conhecidos para trabalharem ao seu lado. Conseguindo criar um disco colaborativo que traz um sentido de comunidade e união nas músicas. Beatriz Artola, que trabalhou anteriormente com Adele, A$AP Rocky, Common, foi a engenheira de som. Em "Going-to-the-Sun Road", é tempo para a colaboração inesperada entre Robin e Tim Bernardes (O Terno) que acrescenta a sua doce e reconfortante voz ao cantar em português no final. O que foi uma boa e grande surpresa na primeira audição. Uma das claras inspirações do front man vem à luz com a demo da voz de Brian Wilson quando gravou "Don’t Talk (Put Your Head On My Shoulder)" da sua banda, The Beach Boys, que foi utilizada e cedida pelo próprio para "Carding Mother, Cradling Woman". O coro que se ouve em "Can I Believe You" são de gravações realizadas por 400 ou 500 pessoas que Robin pediu através do Instagram, e a versão final acabou por ser esta. Para representar a ingenuidade de quando se é novo, decidiu colocar as vozes dos filhos de Hamilton Leithauser em "Young Man’s Game". Kevin Morby também tem uma pequena participação e canta em "Sunblind". Este grupo variado de pessoas talentosas ajudaram a trazer uma sonoridade refrescante e coerente. 

O disco acaba com "Shore" e, tal como no filme e noutras músicas, traz um elemento da natureza, neste caso do mar, onde se ouve uma baleia no princípio. A voz de Robin Pecknold e de Uwade Akhere juntam-se para criar esta peça relaxante, oferecendo o final ideal. E, também, se conclui que é mais outra amostra maravilhosa e bonita do que o líder consegue concretizar nos LPs dos Fleet Foxes. Com uma discografia curta, já conseguiram marcar a sua posição no mundo da música folk. Shore tem vários momentos fantásticos e calorosos para se ouvir durante este outono. 

 

Shore dos Fleet Foxes: na onda relaxante da folk Shore dos Fleet Foxes: na onda relaxante da folk Reviewed by Watch and Listen on setembro 24, 2020 Rating: 5

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