#Throwback: El Mal Querer de Rosalía
O conceito do disco foi inspirado na obra do século XIII Flamenca, cujo autor é desconhecido, e aborda uma relação tóxica onde cada música funciona como um capítulo do livro e foi o seu projeto final de curso no Instituto Superior de Música de Cataluña. A narrativa começa com "MALAMENTE (Cap.1: Augurio)" que é um presságio para o que irá acontecer. Continua com um casamento, "QUE NO SALGA LA LUNA (Cap.2: Boda)", e iniciam-se os ciúmes em "PIENSO EN TU MIRÁ (Cap.3: Celos)": «Me da miedo cuando sale', sonriendo pa' la calle/ Porque todos pueden ve' los hoyuelitos que te salen». A violência física desta relação é abordada em "DE AQUÍ NO SALES (Cap.4: Disputa)", o ponto de rutura nesta história. As próximas músicas falam de como a mulher se sente por estar nesta situação. Ainda mais, acaba por ter um bebé indesejado de um parceiro que a maltrata em "NANA (Cap.9: Concepción)". Por fim, vinga-se e assassina o homem no tema "MALDICIÓN (Cap.10: Cordura)": «He deja'o un reguero/ De sangre por el suelo». Na última música, livra-se de tudo, ganha o poder e afirma que «A ningún hombre consiento/ Que dicte mi sentencia/ Solo Dios puede juzgarme/ Solo a Él debo obediencia». Só pelas letras e influência neste conto antíguo adaptadas para um mundo mais atual, sabia-se que ia trazer algo novo para a indústria da música.
Rosalía e El Guincho criaram o som distinto da cantora em que conjuga um género tradicional com melodias mais contemporâneas, algo que até esse momento nunca se tinha ouvido dessa forma. Ao longo dos onze temas, ambos experimentaram com o flamenco, uma alusão às origens do seu país, R&B e até Pop. Os ritmos flamencos e as palmas são fortemente marcados na maior parte das músicas, porém a grande reviravolta acontece quando se começa a ouvir sonoridades modernas. Em teoria, podia parecer um pouco estranho, mas em prática funciona perfeitamente bem. Uma das canções que mostra este contraste é a balada "BAGDAD (Cap.7: Liturgia)" que recorre ao uso de uma sample de "Cry Me A River" de Justin Timberlake. Outro exemplo é "DE AQUÍ NO SALES (Cap.4: Disputa)" criada com um simples barulho de uma mota a arrancar e compassos de palmas. Já "PIENSO EN TU MIRÁ (Cap.3: Celos)" e "MALAMENTE (Cap.1: Augurio)" são as que se aproximam mais da Pop, ao contrário de "QUE NO SALGA LA LUNA (Cap.2: Boda)" mais próxima do estilo clássico. Noutros momentos, "A NINGÚN HOMBRE (Cap.11: Poder)", a sua voz teve mais força do que o instrumental. Todas estas características tornaram El Mal Querer num álbum revolucionário não só para o mundo musical espanhol, como também globalmente.
La Rosalía transformou-se em pouco tempo desde o seu primeiro longa-duração, Los Ángeles (2017), até ao seu sucessor. Com El Mal Querer, pegou num conceito e aprofundou-o durante trinta minutos em letras poéticas. Além disso, ainda adicionou várias referências musicais bastante distintas de uma maneira genial. Conseguindo fazer um álbum especial que não só transformou a sua carreira completamente como também foi marcante para a música mundialmente. Sem dúvida, um disco que só acontece uma vez por acaso e dificilmente será replicada tão brilhantemente.