Rock in Rio Lisboa 2022: 1º fim-de-semana - reportagem
O Parque da Bela Vista, em Lisboa, voltou a encher-se de pessoas, música e entretenimento para mais uma edição do Rock in Rio Lisboa, que era para ter acontecido em 2020. Apesar desta paragem de dois anos, foi como se nunca se tivesse parado, pois o cartaz manteve-se quase o mesmo e a vontade das pessoas por voltarem àquele recinto também.
Durante o primeiro fim-de-semana, aconteceram concertos de The National, Black Eyed Peas, Ivete Sangalo, Liam Gallagher, Iza, Bárbara Tinoco e muitos mais. O primeiro dia, 18 de junho, contou com 74 mil pessoas e o segundo, 19 de junho, com 63 mil pessoas.
A primeira paragem foi no Palco Rock Your Street, que contou com a curadoria de Ao Sul do Mundo CRL, para o concerto de Sara Correia. A cantora trouxe a sua versão de fado tradicional com um toque de pop ao festival e num palco, onde pelo nome não se parecia enquadrar muito bem. Contudo, isso não a impediu de mostrar a sua bela voz ao público encantado com a mesma. Ouvir-se e ver-se uma artista de fado num festival desta dimensão podiam soar um pouco estanho, mas fez todo o sentido na programação deste palco. “Porquê Do Fado” e “Quero É Viver” foram alguns dos temas que marcaram a sua estreia no festival.
A seguir, Bombino trouxe rock ao palco Rock Your Street acompanhado pela sua banda, com um dos membros a afirmar ao público que não faz sentido dizer-se obrigado e obrigada em português. O artista tuaregue veio mostrar as suas letras políticas sobre o seu país, o Níger, e a sua guitarra eletrizante da forma única que só ele sabe fazer. Apesar de, muito provavelmente, ninguém na audiência perceber a tradução das letras, por serem escritas e cantadas no dialeto tuaregue, isso não impediu ninguém de sentir os ritmos das músicas e dançar ao som das mesmas.
No palco Mundo, entrava Liam Gallagher, a outra metade dos Oasis, com a sua atitude de “não quero saber de nada nem de ninguém” enquanto se ouvia “Fuckin’ in the bushes”, partindo logo para “Hello” e “Rock’n’roll Star”. Sabendo ao que vinha e o que o público esperava, a maior parte do alinhamento foi feito com músicas dos Oasis. Ainda teve tempo para cantar alguns dos seus temas a solo como “Wall of Glass”, “Everything’s Electric” e “Diamond in the Dark”. Do seu projeto Beady Eye apenas se ouviu “Soul Love”. Com o seu humor britânico, por vezes difícil de se compreender devido ao sotaque, interagiu com o público que se encontrava mais à frente e teceu elogios a Rúben Dias e “São Bernardo Silva”, ambos a jogarem no Manchester City. Durante uma hora, percorreu um pouco da história britânica do rock e da sua banda com o irmão Noel. Para quem nunca viu Oasis ao vivo, o que difícilmente acontecerá no futuro, teve uma boa dose de alguns dos maiores clássicos da banda e foi onde Liam jogou bem. O penúltimo golo foi dado com “Wonderwall”, que não podia faltar na setlist e o anúncio que “Champagne Supernova” seria a última, mas acabou por ser “Cigarettes & Alcohol”. Uma viagem a memórias longínquas que valeu a pena.
Já os The National atuam em Portugal quase todos os anos desde que tenham um álbum novo ou andem em tour pela Europa, e mesmo assim não soam a cromos repetidos. Pois, a banda de Ohio sabe como trazer algo de diferente nos seus concertos. A começarem em grande, com alguns dos seus temas que têm melodias mais mexidas, como, “Don’t Swallow the Cap”, “Mistaken for Strangers” e “Bloodbuzz Ohio” prometia ser um concerto memorável e assim foi. Também se ouviram algumas músicas mais emocionais com “I Need My Girl” e “Light Years”. Sem esquecerem “Day I Die”, que funciona sempre bem ao vivo, quer para os fãs e para quem não conhece a banda, e aqui não foi exceção. Pode-se dizer que voltaram em força desde os gémeos Aaron e Bryce Dessner a trocarem de instrumentos em vários momentos e com o primeiro a mostrar a sua gratidão às pessoas que assistiram, passando pela setlist adequado para um festival e até a Matt Berninger interagir várias vezes com a audiência, incluindo passear no meio da mesma perto das grades, e ficar assustado com os “anjos”, quem usava o slide durante o concerto, que via a passar. Não só deram, provavelmente, um dos concertos mais memoráveis em Portugal nos últimos anos como, ao mesmo tempo, o melhor deste dia do Rock in Rio.
No segundo dia, a primeira paragem foi, novamente, no palco Rock Your Street para o concerto de Bruno Pernadas que apresentou o novo álbum Private Reasons, editado este ano. Assistir-se a um concerto de Bruno Pernadas é sempre uma lufada de ar fresco e um bom momento para se respirar um pouco enquanto se ouve harmonias perfeitas acompanhadas por melodias de jazz. Um concerto que calhou bem antes de se partir para coisas mais animadas.
O Galp Music Valley estava cheio para o concerto de Bárbara Tinoco, uma das novas vozes da pop nacional, e com razão. Num cenário roxo e laranja, a artista apresentou o seu disco de estreia, Bárbara, que foi editado este ano, para uma plateia ansiosa por a ver e ouvir, e não desiludiu. A verdade é que as suas músicas sobre amores e desamores conseguem chegar a muitas pessoas, o que foi óbvio neste momento. “Estrelas”, “outras línguas” e “fugir de ser” abriram o concerto do que seria cerca de uma hora de sorrisos, desabafos, histórias e uma cover de "Devia Ir" dos Wet Bed Gang. Antes de “Advogado” explicou que a inspiração na frase “não me olhes assim que eu não penso dar-te” veio de um anúncio de cereais antigo. Depois, apareceu num skate enquanto cantava “Gisela” e rodava em cima do mesmo à volta do palco. Já em “Carta de Guerra” partilhou que foi inspirada nos seus avós na altura em que trocavam cartas de amor durante a guerra. Neste espetáculo, a artista mostrou que tem a voz e a presença em palco para atrair multidões e dar concertos memoráveis.
No que toca à Ivete Sangalo, cada vez que é confirmada no festival há inúmeras queixas sobre ir sempre lá, mas a realidade é que a cada concerto percebe-se perfeitamente a razão principal porque volta sempre: sabe dar show de bola em grande e, mesmo assim, muitas pessoas vão de propósito para a verem, porque sabem que vai ser bom. Ao mesmo tempo, consegue tornar cada espetáculo diferente. Desta vez não se ouviu "Poeira", mas sem dúvida que levantou poeira no Parque da Bela Vista cada vez que dançava e cantava. Foi a causadora de uma das maiores enchentes deste dia no Palco Mundo e após se ouvir "Tá solteira, mas não tá sozinha" e "Tempo de alegria", soube-se que ia ser mais outro momento inesquecível da artista e do festival. A única parte negativa foi ter atuado apenas 1h, pois poderia ser muito mais que o público aderia na mesma.
A outra explosão brasileira deste dia encontrava-se no Galp Music Valley, antes do fogo-de-artificio. Iza também trouxe um excelente espetáculo a este palco carregado de energia e muita dança. Num registo um pouco diferente da artista anterior, até fez sentido ficarem ambas quase de seguida em diferentes palcos para se mostrar mais um pouco da música feita atualmente no Brasil. Com uma multidão enorme na colina deste palco, Iza veio e entregou tudo o que devia e podia. Até merecia um concerto a solo numa sala portuguesa.
Finalmente, os cabeças de cartaz deste dia, os Black Eyed Peas, regressaram a Portugal após um concerto no Estádio Nacional em 2010. Agora sem a Fergie, que passou pelo festival em 2016, fazem-se acompanhar por J. Rey Soul que também tem uma voz boa. Nos últimos anos, a banda perdeu-se um pouco desde que fizeram músicas mais eletrónicas e tentativas de hinos comerciais replicadas do hit "I Gotta Feeling". Agora, andam a tentar o mesmo através do Tiktok. Apesar disso tudo, o concerto valeu a pena para se ouvir alguns dos temas clássicos, as mensagens que o grupo transmitiu e a energia que têm ao vivo. "Let's Get It Started", "Pump It", "Boom Boom Pow", "The Time (Dirty Bit)" e "Where Is The Love?" foram os clássicos que mais marcaram este concerto, pelo menos para os fãs mais antigos, deixando o desejo de se ouvir mais alguns. A meio do concerto, houve momentos para cada um dos membros a começar por Taboo e acabando em will.i.am, o que mereceu mais tempo de antena devido aos seus trabalhos como produtor. Durante o espetáculo, will.i.am começou a fazer um live no instagram com o seu telemóvel em palco, o que no princípio até foi engraçado mas depois ficou só cansativo e não parecia muito interessado no público presente. Contudo, foi um bom concerto para se recordar alguns dos seus maiores hits e ter-se a oportunidade de ver o seu regresso.