NOS Alive 2022 - dia 2: o culto de Florence + The Machine


O segundo dia da edição deste ano do NOS Alive contou com algumas estreias e alguns regressos. Além disso, foi o dia em que teve mais mulheres a atuarem no palco principal (Florence + The Machine, Jorja Smith e Celeste), o palco Heineken cheio para o concerto de um artista nacional e memórias antigas com certas músicas e concertos.



Em 2019, Alec Benjamin deu-se a conhecer ao mundo com o seu tema “Let Me Down Slowly”, que ainda teve direito a um remix com a artista norte-americana Alessia Cara. Em 2022, Alec estreou-se, por fim, em Portugal, no palco Heineken, e deixou o público derretido com o seu concerto. Já com três álbuns editados, o artista trouxe na bagagem temas como “Devil Doesn’t Bargain”, “Water Fountain” e “If We Have Each Other”. Os fãs de Alec trouxeram alguns cartazes para o seu concerto, mas o cartaz que se mais destacou dizia “Your music saved me”. Isto para puder dizer que, apesar do artista não ser mais conhecido no nosso país, conseguiu atrair os seus fãs e alguns curiosos que passavam por aquele palco. O artista apenas precisou de uma hora para poder conquistar o público português e a certeza de um regresso a Portugal para um concerto em nome próprio poderá estar para breve.

 

Alec Benjamin @ NOS Alive 2022 

 

A artista norte-americana Celeste chegou ao palco NOS com a sua contagiante voz proveniente do jazz e do R&B. Antecedeu o concerto de Jorja Smith e, tendo em conta à programação do festival para o palco principal naquele dia, foi a aposta certa para começar a sua viagem pelas vozes femininas que se apresentaram. No princípio, parecia que estava a aquecer e a preparar-se, de forma calma, para o que se seguiria no concerto. Contudo, o público respondeu à chamada de Celeste: com energia e entoar em alto e bom som a música “Stop This Flame”, canção que já é conhecida pelo público através das rádios portuguesas, o momento em que agarrou completamente quem assistia ao espetáculo e ainda foi ter com alguns fãs nas primeiras filas. Ainda mais, apresentou temas novos do seu primeiro álbum de estúdio “Not Your Muse”, que tinha sido editado em fevereiro do ano passado. Pudemos ouvir temas como “Strange”, “Lately” e “To Love a Man”, o seu tema mais recente. É certo que vamos voltar a puder deslumbrar a artista norte-americana num festival português nos próximos tempos.


Celeste @ NOS Alive 2022


Outra das estreias deste dia era a banda irlandesa Inhaler, no palco Heineken, formada por Elijah Hewson (filho de Bono dos U2), Robert Keating, Josh Jenkinson e Ryan McMahon. O grupo, que trouxe o rock diretamente de Dublin, apresentou o seu disco de estreia It Won't Be Always Like This (2021), e começaram o espetáculo com a música que tem o mesmo nome. Eles que também andam um pouco por todos os festivais europeus, como os Fontaines D.C. no dia anterior, chegaram finalmente a Portugal e não decepcionaram. Com poucas palavras dirigidas ao público, despejaram alguns dos melhores temas do seu álbum, como, "Totally", "When It Breaks" e "In My Sleep". Ainda tocaram o novo single "These Are The Days". As suas músicas, tal como o concerto, trazem uma sonoridade jovem de quem escreve as letras no quarto e depois junta-se com os restantes membros numa garagem para fazerem as músicas, e, ao mesmo tempo, a hipótese de que podem evoluir ainda mais o seu som num futuro próximo.


Inhaler @ NOS Alive 2022 

 

Não é estreante no festival, mas trouxe novidades para este concerto. Jorja Smith voltou ao festival onde se estreou em 2019, no palco Heineken cheio de pessoas para a verem. Agora, a artista britânica subiu ao palco NOS, onde trouxe a sua banda e os seus ritmos contagiantes do R&B. Precisou de apenas uma hora para poder contagiar o público português com a sua voz celestial e com as suas músicas do seu mais recente álbum de estúdio Be Right Back, editado em maio de 2021. Entrou em palco a cantar "Teenage Fantasy", do primeiro álbum Lost & Found (2018), com uma cara sorridente e a sua bela voz a ecoar pelo recinto. A seguir, disparou o afrobeat de "Be Honest", uma colaboração com Burna Boy, e "Addicted" do novo disco. Obviamente que não faltou na sua setlist músicas conhecidas como "Where Did I Go?", “On My Mind” e “Blue Lights”. A sua voz segura é a protagonista com letras introspetivas, com mensagens políticas e sobre relações, incluindo em ritmos mais mexidos, como "Bussdown", e faz-se acompanhar de uma banda que a faz brilhar ainda mais ao vivo. Após o concerto, quem assistiu ficou encantado com esta voz e presença em palco da artista. É provável que Jorja Smith regresse ao nosso país, pois ela já consegue atrair uma grande multidão de fãs portugueses para, por exemplo, atuar no Coliseu dos Recreios.

 


Jorja Smith @ NOS Alive 2022


Florence + The Machine, a banda liderada por Florence Welch, marcou o seu regresso ao festival pelo qual passou há 12 anos, e após um concerto na Altice Arena em 2016. Agora, a sua bagagem esteve cheia de músicas novas do seu mais recente e contagiante álbum de estúdio, Dance Fever, editado em maio deste ano, onde a vocalista afirma que queria trazer um pouco de músicas mais mexidas para as pessoas poderem dançar neste regresso à normalidade. E foi isso que Florence Welch trouxe ao público português: dança, liberdade e, ainda, um pouco de reflexão. Começou o concerto com a divinal "Heaven Is Here", retirada do novo disco, partindo para "King" e depois para as explosivas "What Kind of Man" e "Kiss With a Fist". Quando chegou a vez de "Dog Days Are Over", a artista pediu ao público para não mexer nos seus telemóveis e que saltasse ao mesmo tempo. Um momento que, para quem não usou o telemóvel, foi libertador. Sempre a saltar, a correr ou a dançar de um lado para o outro, Florence fez a espera deste regresso fazer valer a pena. Se há outra coisa que, normalmente, acontece em cada concerto de Florence + The Machine é a intimidade que a artista tem com os seus fãs, quer seja com as mensagens que transmite durante o concerto, quer seja no momento em que desce do palco para o público e toca ou agarra-se aos fãs, deixando qualquer pessoa que passa por isso bastante tocada com essa interação, e aqui não foi exceção. A energia indescritível continuou "Dream Girl Evil", "Ship To Wreck" e "Cosmic Love", com a lua a aparecer no ecrã atrás. Ainda trouxe uma surpresa ao cantar "Never Let Me Go", do álbum Ceremonials (2011), que não cantava há anos por a lembrar de uma fase má em que era "muito jovem, triste e bêbeda", e com as emoções à flor da pele, proporcionou um momento magnífico e emocionante para muitos dos seus fãs. Depois de abandonar o palco a seguir a "Hunger", voltou para o encore com "Shake I Out" e "Rabbit Heart (Raise It Up)" e ainda disse que adorava o público, deixando a frase "vocês agora fazem parte do culto de Florence + The Machine" para o final. Este espetáculo foi a prova que cada concerto de Florence + The Machine consegue ser sempre diferente, especial e único em relação ao anterior e mostra que a sua relação com o público português é bastante próxima, e não deixa ninguém indiferente seja a primeira vez que vê ou a terceira, quarta ou quinta. Com uma voz poderossíma que faz estremer qualquer palco por onde passa, em constraste com a sua voz calma quando fala, foi mais outro belo e marcante concerto de Florence em Portugal.


Florence + The Machine @ NOS Alive 2022


A fecharem o palco NOS neste segundo dia, estavam os alt-J, um nome já recorrente do festival que passou pelo mesmo em 2013, um dos concertos mais marcantes dessa edição, 2015, 2017 e regressaram este ano. Com o hype mais calmo agora do que durante o lançamento dos dois primeiros álbuns, An Awesome Wave (2012) e This Is All Yours (2014), o novo trabalho, The Dream, editado este ano, pode ter passado despercebido a algumas pessoas. Contudo, o alinhamento para este espetáculo foi feito maioritariamente com músicas do primeiro disco, tendo o terceiro merecido apenas uma, "In Cold Blood". Felizmente, assim foi e resultou muito melhor do que se tivessem tocado temas novos e, desta forma, foi uma viagem de memórias pelas suas melhores canções, uma espécie de best of adequado para um festival ao final da noite. A festa fez-se com "Every Other Freckle", "Something Good", "Dissolve Me" e "Fitzpleasure", algumas das que arrancaram mais saltos e passos de dança do público. Os momentos mais amenos foram feitos com "Matilda", "Tessellate" e "The Actor". Para o fim, ficou "Breezeblocks", a música que os catapultou para o sucesso. Tanto em estúdio como ao vivo, os alt-J já não têm a mesma magia de antes, portanto terem escolhido esta setlist com mais músicas do primeiro trabalho foi, sem dúvida, a escolha acertada.


Alt-j @ NOS Alive 2022


Depois de ter esgotado o Coliseu dos Recreios em abril, foi a vez de Dino D'Santiago encher o palco Heineken neste dia. Ao contrário do concerto anterior, para este existia bastante hype, o que foi notório na quantidade de pessoas que ia entrando na tenda e as restantes que ficaram a ver de fora. Desta vez, o artista apresentou-se em palco sozinho, sem convidados como no Coliseu, mas nem por isso deixou de ser especial. Desde o primeiro segundo que entrou em palco, sentiu-se logo uma energia incrível do público que estava ansioso por o ver pela primeira vez ou voltar a ver naquele palco. Assim, foi mais um momento marcante na sua carreira e a prova que todo o trabalho que teve até Badiu (2021) compensou para chegar até aqui. Ao mesmo tempo, é um momento que irá ficar para a história do festival nacional, com um cunho internacional, por ter um artista a cantar em português e em crioulo à 1h da manhã com uma tenda rebentar pelas costuras. A evocar Cesária Évora, ouviram-se os temas "Esquinas", "Voei de Mim" e "Kriolu". Ainda teve tempo de apresentar o remix de "Mbappé (Afro Tropical" original de IVANN, que tinha acabado de sair à meia-noite.


Dino D'Santiago @ NOS Alive 2022
 
 
Texto: Pedro Miguel & Iris Cabaça
Fotos: Iris Cabaça
NOS Alive 2022 - dia 2: o culto de Florence + The Machine NOS Alive 2022 - dia 2: o culto de Florence + The Machine Reviewed by Watch and Listen on julho 20, 2022 Rating: 5

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