Super Bock Super Rock 2022: Dia 3 – a relação dos Foals com o público português
O terceiro e último dia do Super Bock Super Rock deste ano contou com alguns regressos de artistas e bandas ao festival (Foals, Woodkid e Jamie xx), a estreia de Declan McKenna em Portugal, o folk das Golden Slumbers e a história de Mayra Andrade.
As irmãs Margarida e Catarina Falcão subiram ao palco LG by SBSR.FM acompanhadas por Alberto Hernández (guitarra), Diogo Arranja (bateria) e David Santos (baixo). Assim, as Golden Slumbers vieram apresentar o seu novo álbum, I Love You, Cristal, editado em março deste ano e sucessor de The New Messiah (2016), para uma plateia bem composto, que incluiu Declan McKenna. Apesar do sol ainda estar forte, os novos temas mais místicos e etéreos trouxeram um momento acolhedor às pessoas que assistiram ao concerto. As vozes de Margarida e Catarina, que sobressaem em diferentes partes das músicas e depois juntam-se, as harmonias e a folk do duo que por vezes chega a caminhos mais pop, são o que torna os seus espetáculos especiais e foi o que aconteceu nesta tarde no festival.
Com a única data na Europa este ano, chegou Mayra Andrade ao palco Super Bock. Ainda a apresentar os temas de Manga, editado em 2019, mas que continua a soar tão refrescante até aos dias de hoje, a artista trouxe língua crioula, e também portuguesa, ao palco principal, algo que ainda não é muito habitual para artistas com raízes cabo-verdianas, infelizmente. Com a Altice Arena ainda a meio gás, tal não a impediu de encantar o público com os seus temas, a tocar o ferro, a prolongar as canções ou a dançar ao ritmo de funaná. Com um sorriso contagioso, animou a plateia com “Pull Up”, “Afeto” e “Manga”. Em dois momentos emocionantes, dedicou “Terra da Saudade” a todas as pessoas que sofrem com os incêndios em Portugal todos os anos e “Vapor di Imigrason” aos seus avós e ao povo de Cabo Verde. Ainda estreou “Bom Bom”, a colaboração com Batida, e foi para o meio do público durante “Lua”. Carregada de história e ritmos contagiantes, Mayra Andrade foi um raio de solo na arena.
Vestido com um macacão prateado, uma espécie de fato espacial, Declan McKenna estreou-se finalmente em Portugal numa sala Tejo, no palco EDP, bem composta para ver um dos artistas sensação do Reino Unido desde 2015. O artista britânico já passou pela maior parte dos festivais mais conhecidos no mundo, tais como, Glastonbury, Coachella, Lollapalooza e o Eurosonic Noorderslag, e só faltava um festival português na sua lista de atuações. A abrir em grande com três temas do seu segundo álbum, Zeros (2020), “Beautiful People”, “Rapture” e “The Key To Life on Earth”, colocou logo os fãs portugueses, e alguns estrangeiros, nas primeiras filas a cantarem as letras de uma ponta à outra. Ao vivo faz-se acompanhar pela sua banda composta por Isabel Torres (guitarrista), Nathan Cox (teclado), William Bishop (baixo) e Gabrielle Marie King (bateria). Durante o espetáculo, ainda disse algumas palavras e frases num português bastante bom, que lhe foi ensinado pela guitarrista Isabel Torres, que é portuguesa. Do seu primeiro disco, What Do You Think About The Car? (2017), foi buscar “Why Do You Feel So Down”, “The Kids Don’t Wanna Come”, “Isombard” e “Humongous”. Para o final guardou “Brazil”, a criticar a FIFA sobre a Copa do Brasil em 2014, e “British Bombs”, neste caso uma crítica às políticas estrangeiras do Reino Unido. Uma estreia no nosso país que foi adiada devido à pandemia, mas que valeu a pena a espera.
Outro artista que também passou pelo festival em 2014 foi o cantor e compositor francês Woodkid, no palco EDP, e tal como no seu concerto anterior, desta vez também trouxe uma grande e magnífica componente visual, que advém dos seus trabalhos como realizador de videoclipes e designer gráfico, e ajudou a elevar cada tema que cantava com a sua voz mais profunda. Acompanhado por mais músicos em palco, incluindo uma secção de cordas que tornou algumas músicas ao vivo ainda mais bonitas, algo que nem parecia possível de acontecer, veio apresentar o seu mais recente trabalho S6 (2020). Disparou logo com “Iron” e “Pale Yellow”, e soube-se que a próxima hora seria marcante e quando chegou “I Love You”, um dos seus temas mais conhecidos, comprovou-se isso. Além da parte estética dos seus espetáculos, as suas canções também são cinematográficas por si só e levam sempre o público por uma grande viagem e, assim, “Highway 27”, “The Golden Age”, “Conquest of Spaces” e “Minus Sixty One” foram alguns exemplos dessa cinematografia. Para o encore ficaram reservas “Goliath” e “Run Boy Run”, um dos seus maiores sucessos e que já esteve em quase todo o lado desde filmes, séries até em anúncios publicitários. Um festival importante para o artista por ter sido um dos primeiros onde apresentou o seu disco de estreia, The Golden Age (2013), e que vai voltar a ficar na sua memória e na do público depois deste brilhante concerto.
Jamie xx também já passou pelo Super Bock Super Rock a solo em 2016 e com a sua banda, os The xx, em 2018, e curiosamente ambos foram no mesmo sítio, na Altice Arena. Desta vez, encerrou o palco principal e colocou vários festivaleiros mais resistentes a dançarem ao som dos seus temas de In Colour (2015), remixes e ainda “Comanche” de Jorge Ben Jor e “Complexo de Épico” de Tom Zé. Não foi preciso fazer muito para animar as pessoas que se encontravam na Altice a esta hora, contudo ainda trouxe um remix de “GMT”, música do seu colega de banda Oliver Sim, “On Hold” dos The xx e “Idontknow”. E os ainda mais resistentes, terminaram o final no DJ set de Foals, que aconteceu após o seu concerto no palco Somersby.
Numa edição montada em apenas dois dias sob alta pressão com a mudança repentina de local, o Super Bock Super Rock conseguiu resistir e ainda trouxe alguns dos melhores concertos desta época de festivais de verão e acabou em festa. O festival regressa no próximo ano nos dias 13, 14 e 15 de julho no Meco, mas num novo sítio.