MEO Kalorama 2022: uma mistura de sonoridades no Parque da Bela Vista

 

O MEO Kalorama realizou a sua primeira edição nos dias 1, 2 e 3 de setembro no Parque da Bela Vista, em Lisboa. O alinhamento contou com diversos artistas nacionais e internacionais, que regressaram a Portugal.

 

No mesmo ano de Rock in Rio é quase impossível não fazer comparações ao recinto, e neste caso estava visivelmente mais pequeno, mais limpo pelo facto de ter menos stands de marcas e, exceto o palco principal, com os outros dois palcos em locais diferentes. Já o festival em si, tem um conceito bastante diferente do original brasileiro. Ocorreram vários concertos, mas esta reportagem apenas irá abordar alguns dos que se destacaram mais ao longo dos três dias.

 

Por volta das 19h, James Blake subiu ao palco principal no primeiro dia num horário um pouco estranho para as vibes das suas músicas, algo que foi mencionado pelo próprio artista, e teria funcionado melhor se fosse durante a golden hour ou no final da noite. Apesar disso, não deixou de presentar o público com alguns dos seus melhores temas, tais como, Life Around Here e Retrograde e a sua bela voz. Ainda teve tempo para tocar The Limit To Your Love de Feist e Godspeed de Frank Ocean no final.

 

Já os D’Alva tiveram o horário ideal ao começarem às 20h porque começaram o concerto de dia e terminaram de noite. A banda voltou a atuar num festival em Lisboa e as saudades de se vê-los em cima de um palco no festival eram muitas. O agora trio veio apresentar alguns temas novos que farão parte do terceiro álbum SOMOS. Ainda trouxeram algumas surpresas como Isaura para cantar Sala de Espera e Pimenta Caseira para tocar o saxofone. Mais uma vez, mostraram que são um nome imprescindível nos festivais portugueses ao trazerem a sua pop divertida e, ao mesmo tempo, melancólica. 

 

 

 

Para continuar na onda pop, seguiu-se Years&Years que agora apenas conta com Olly Alexander como membro original. Assim, Alexander regressou a Portugal e desta vez para apresentar o seu novo disco Night Call (2022). Chegou dentro de uma cabine telefónica e fez-se acompanhar por bailarinos. Num concerto cheiro de sensualidade, o artista trouxe alguns dos maiores sucessos de Years&Years como Shine e Desire. Ainda se fez ouvir Sanctify, Crave, onde atuou em cima de uma cama, e uma cover de It's a Sin dos Pet Shop Boys. King ficou para último e deixou a certeza que mesmo sozinho, a essência dos Years&Years vai continuar presente enquanto Olly Alexander quiser. 


No palco Colina, os alemães Kraftwerk regressaram a Portugal para um concerto extra dimensional que teve direito a óculos 3D devido aos efeitos visuais que trouxeram. Poucos minutos antes de começar já se encontrava cheio com pessoas ansiosas por os verem de novo ou pela primeira vez. Quem queria dançar teve o seu momento e quem queria ver uma banda icónica ao vivo também o teve, e pode-se dizer que todas essas pessoas ficaram com o objetivo concretizado. O quarteto percorreu um pouco da sua discografia desde Autobahn (1974) até Tour de France (2003), conquistando o público mais velho e o mais novo ao mesmo tempo. A parte visual foi excelente, como seria esperado, e foi bom vê-los a trazerem este espetáculo tão especial a Lisboa novamente. 

 

 

No segundo dia, os destaques foram para as rainhas da disco: Jessie Ware e Róisín Murphy, e para os reis de Sheffield: os Arctic Monkeys. Por volta das 20h no palco Colina, Jessie Ware entra em palco e chega logo com Spotlight, retirada do seu álbum mais recente What’s Your Pleasure? (2020). Nesta nova fase da sua carreira, Ware traz uma sonoridade completamente diferente dos seus primeiros três álbuns (Devotion, Tough Love e Glasshouse) e, ao mesmo tempo, um espetáculo distinto desde que a vimos no EDP Cool Jazz em 2018. Agora faz-se acompanhar por bailarinos e um coro, enquanto se nota que é um concerto mais elaborado e livre do que anteriormente. O alinhamento foi constituído maioritariamente com músicas do novo trabalho, tais como, Ooh La La, Soul Control e Remember Where You Are e, ainda, apresentou o seu novo single Free Yourself. No tema What’s Your Pleasure? Trouxe o momento mais sensual do espetáculo onde trouxe um chicote. A bela Save a Kiss deu por encerrado o concerto. Jessie Ware esteve impecável, como seria de esperar, só foi pena o som não estar no seu melhor e tornar, por vezes, a sua voz pouco percetível.

 

Pouco tempo depois foi a vez de Róisín Murphy subir ao mesmo palco e também mostrar a sua nova sonoridade disco, que começou em Róisín Machine (2020). Trouxe um aspeto bastante teatral à sua performance porque mudava de roupa ou de adereços quase a cada segundo durante as músicas e enquanto dançava, o que foi divertido de se assistir. Começou com Something More passando por Let Me Know e Incapable. Os temas do projeto Moloko como The Time is Now, Forever More e Sing it Back foram os que meteram o público a dançar mais no espaço existente. A festa foi animada e proporcionada no horário ideal. 

 

 

A seguir, veio outro mundo diferente com o regresso dos Arctic Monkeys a Portugal em mais um festival, numa das suas duas datas na Península Ibérica, e com uma pequena antevisão do seu próximo álbum. Começaram logo com a pergunta Do I Wanna Know?, um dos maiores sucesso de AM (2013) e partiram para Brianstorm e Snap Out of It. A partir daqui o alinhamento foi sempre certeiro ao tocarem temas de todos os seus discos numa ordem específica que resultou bem ao vivo, por exemplo, Crying Lightning seguida por Teddy Picker e Potion Approaching, que não tocavam há algum tempo. A porção das músicas The View From the Afternoon, Cornerstone, That’s Where You’re Wrong e Library Pictures (ambas do álbum Suck it and See) foram outra escolha bastante acertada e depois ouviu-se Tranquility Base Hotel + Casino para acalmar um bocado os ânimos. Ainda apresentaram I Ain't Quite Where I Think I Am do seu próximo álbum The Car. Assim, pode-se dizer que este foi um dos melhores concertos dos Arctic Monkeys, a seguir ao de 2013 no Super Bock Super Rock, em Portugal e que voltaram aos palcos e ao nosso país mais fortes que nunca com uma banda coesa ao vivo e Alex Turner a cantar cada vez melhor. Apesar do frontman ter interagido pouco com o público, contrariamente ao concerto de 2013, isso não os impediu de darem um dos melhores concertos do festival e de comprovarem a razão de serem uma das melhores bandas do indie dos anos 2000 e porque ainda continuam relevantes até aos dias de hoje. Só é pena que venham sempre a festivais e nunca a solo, a última vez foi em 2010 no Campo Pequeno, porque o ambiente seria um pouco diferente. Como começaram com uma pergunta acabaram com outra e trouxeram R U Mine? e a certeza de mais outro concerto brilhante.



No terceiro e último dia houve gostos para tudo e todos. No palco Colina, Peaches regressou a Portugal após um concerto no NOS Alive em 2017 para a tour de celebração dos 20 anos desde o lançamento do seu álbum de estreia The Teaches of Peaches (2000). Um espetáculo carregado de libertação sexual, como seria esperado da artista, e com algumas mensagens importantes quando mostrou a frase “Thank God for abortion” num body. Entrou em palco mascarada de velha e aos poucos foi mudando de roupa até se encontrar quase despida juntamente com os seus bailarinos e músicos. Ouviram-se os temas Sucker, Boys Wanna Be Her, Pussy Mask e Dick in the Air. Um concerto excêntrico que trouxe Fuck the Pain Away perto do final. 

 

O grande senhor da noite foi Nick Cave, e cabeça de cartaz, que voltou a Portugal com os seus Bad Seeds depois do concerto no NOS Primavera Sound deste ano. Entrou em grande com Get Ready for Love e logo nas primeiras músicas desceu do palco para ir ter com o público enquanto o olhava nos olhos e dava as mãos às pessoas nas primeiras filas enquanto cantava. O artista dedicou O Children a Paula que fazia anos nesse dia e também dedicou Into My Arms a Beatriz Lebre, porque recebeu uma carta da sua mãe a falar sobre a situação da filha. Ainda cantou Higgs Boson Blues onde faz uma menção a Hannah Montana, a personagem de Miley Cryus na série do Disney Channel, e curiosamente no mesmo local onde a artista veio a Portugal pela primeira vez no Rock in Rio em 2010. Uma coisa presente nos concertos de Nick Cave é a sua relação com o público e a convicção das suas músicas que se presenciou aqui novamente.


O after começou com o concerto de Chet Faker no palco Colina e tornou-se numa pista de dança cheia para o ver. Não foi o seu melhor momento no nosso país e o som, infelizmente, não o ajudou, mas deu para recordar alguns temas como Talk is Cheap, Gold e No Diggity. O verdadeiro after foi no palco principal com os Disclosure a fecharem o festival e o duo britânico é sempre um essencial nos festivais nacionais e aqui não foi exceção. Trouxeram os seus greatest hits, tais como, F For You, White Noise, When a Fire Starts to Burn e Latch que é sempre excelente ao vivo. Desta forma, proporcionaram um belo final do festival que irá voltar no próximo.

 

 


MEO Kalorama 2022: uma mistura de sonoridades no Parque da Bela Vista MEO Kalorama 2022: uma mistura de sonoridades no Parque da Bela Vista Reviewed by Watch and Listen on setembro 09, 2022 Rating: 5

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