Ana Moura no Coliseu dos Recreios: cheira bem, cheira a Casa Guilhermina


Num domingo à noite, Ana Moura subiu ao palco de um Coliseu dos Recreios esgotado e com o público ansioso por entrar na Casa Guilhermina, que no dia anterior tinha aberto as suas portas na Super Bock Arena, no Porto. No meio de uma tour de abertura para o Stromae noutros países europeus, a artista regressou a casa para apresentar o seu novo álbum e espetáculo nesta nova fase da sua carreira.

 

A primeira coisa que se viu enquanto se esperava pelo início do concerto, foi um ecrã gigante onde passavam diferentes cams da casa, provavelmente, da artista e tornou-se num das partes visuais mais importantes durante a atuação.

 

Enquanto se ouvia “Minha mãe (Interlúdio)” nas colunas, sentia-se que o público aguardava ansiosamente a entrada de Ana Moura em palco. Os bailarinos chegaram primeiro para aumentarem o suspense, depois a banda e finalmente a artista. Começou logo em grande com “Janela Escancarada”, “Andorinhas”, “Corridinha” e “Estranha Forma de Vida”. A seguir, Pedro Mafama, o seu parceiro, subiu ao palco para ambos cantarem “Linda Forma de Morrer”, “Agarra em Mim” e, ainda se ouviu, “Antes Que Eu Morra (Interlúdio), o que proporcionou um momento marcante, íntimo e sensual.

 

Apesar de ser a apresentação do seu novo álbum, para relembrar alguns dos seus clássicos e agradar ao seu público mais velho, num concerto onde se viram pessoas de várias idades desde às mais jovens até às mais velhas, cantou “Desfado”, num arranjo mais adequado para a era em que se encontra atualmente. Como este novo trabalho é feito de várias influências da artista, cantou “Jacarandá” que tem um beat de kizomba como homenagem ao seu amigo Prince, e “Calunga” que é uma das melhores misturas entre fado e Angola.

 

A altura para se respirar um pouco chegou com músicas mais calmas, e a voz de Conan Osiris voltou a ecoar pelo Coliseu em “Colheita (Interlúdio)”, após 2019, e foi recebida com aplausos para depois Ana Moura cantar “Trigo” e “Nossa Senhora das Dores”, sentada numa cama, onde uma câmara filmava a sua cara para aparecer no ecrã.

 

A som de “Coisas da Terra” de Paulo Flores, lia-se um aviso no ecrã que dizia “Silêncio para não assustar a Emília” e a artista apareceu em palco com a sua filha Emília, que tem menos de um ano, para dançar com ela, dizendo que “começou a andar há pouco tempo e aprendeu a dançar sem ninguém a ensinar”. Continuando na inspiração de Angola e antes do artista subir ao palco, cantou “Mázia”, que é dedicada à sua prima Cláudia e, segundo a própria, é “a peça central deste disco”. Entretanto, começou-se a ouvir e a ver Paulo Flores para cantarem este tema juntos com o público a dançar. Ainda cantaram “Poema de Semba”, original do cantor angolano, num belíssimo dueto para “celebrar a vida”.

 

Quando o final parecia aproximar-se, a artista saiu do palco para cantar “Sozinha Lá Fora” numas escadas no meio da plateia em pé, em que ficou bem perto do público, e trouxe o momento mais intimista deste espetáculo. Numa coreografia perfeita, chegou a dançável “Arraial Triste” acompanhada pelos seus bailarinos e uma melodia que ao vivo soa ainda mais forte. Podia ter sido o fim ideal, mas ainda havia mais.

 

A pedido do público, que fez barulho para a artista voltar ao palco, o encore começou com “Loucura” acapella, onde a sua bela voz se destacou e ecoou pela sala, continou com o cover de “Te Amo” dos Calema e terminou com “Mázia”, de novo, com os convidados, Pedro Mafama e Paulo Flores em palco.

 

Com um ecrã gigante a trazer uma componente visual marcante, os seus quatro bailarinos imaculáveis - numa coreografia realizada por João Reis Moreira e que teve alguns toques do que se presenciou no concerto de Conan Osiris no Coliseu em 2019 -, a sua banda talentosa e uma presença em palco inigualável, Ana Moura trouxe um dos melhores concertos a que se irá assistir durante este ano. Uma máquina bem oleada e uma mudança de género musical, sem esquecer as suas origens, este espetáculo está ao nível de qualquer artista pop internacional, e mesmo que seja numa sala mais pequena, funcionaria bem em qualquer lugar, desde que haja o espaço para isso.

 

A verdade é que Ana Moura já conta com vários anos de carreira, mas o disco Casa Guilhermina e este novo espetáculo colocam-no num patamar elevadíssimo e num dos melhores momentos da sua carreira, e só se pode esperar que chegue ainda a mais pessoas dentro e fora de Portugal.  

 

Ana Moura @ Coliseu dos Recreios
Ana Moura no Coliseu dos Recreios: cheira bem, cheira a Casa Guilhermina Ana Moura no Coliseu dos Recreios: cheira bem, cheira a Casa Guilhermina Reviewed by Watch and Listen on março 26, 2023 Rating: 5

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