Primavera Sound Porto 2023: Dia 3 - Depois da tempestade vem a bonança

O terceiro dia do Primavera Sound Porto deu um lugar ao sol a St Vincent, ainda que Tokischa brilhasse à chuva.

Depois de dois dias de chuva intensa, a esperança dos festivaleiros deste ano era a de que algum descanso lhes fosse dado. Num festival onde os primeiros concertos da tarde convidam a sentar na relva geralmente fresca dos anfiteatros naturais, e num ano em que as festividades duram quatro dias, sentiu-se uma necessidade geral de descanso.

O palco Porto, transformado num campo de lama com ocasionais pontos de gravilha, estreou o dia com Deixem o Pimba em Paz, projeto de Bruno Nogueira e Manuela Azevedo (Clã), que quer descomplexar a música pimba dando-lhe nova roupagem. A alternativa eram os brasileiros Terno Rei, que abriam o palco Super Bock, onde já se começavam a ver os primeiros fãs da toalha na relva.

 

 

 

No palco ao lado, o antigo principal, os Wednesday brindaram o público com o seu indie country, importado da Carolina do Norte. Do pimba para o country e do country para o rap. Pusha T elevou a fasquia do dia, com um público que não ficou atrás da energia pedida pelo seu MC. A carreira longa de King Push merecia uma hora mais avançada no horário mas, ainda assim, a plateia conseguiu largar diversos sorrisos ao rapper, que acabou o set com Runaway, música de Kanye West que o ajudou a ganhar notoriedade. 

 

 

O palco Vodafone já começava a encher para receber NxWORRIES, o projeto que junta Anderson .Paak e Knxwledge, para aquele que seria um dos momentos da noite. Anderson .Paak, cá em baixo, fazendo uso de todo o palco dançando e usando o tripé do microfone como seu parceiro, e Knxwledge, no topo, passando os beats e dominando os samples. Foi, aliás, este último que teve um momento só seu, passando remixes de músicas dos anos 80, culminando em Whitney Houston e até em Wonderwall de Oasis. O convite para a pista de dança foi dado e no palco juntaram-se várias fãs que, uma a uma, dançaram com Anderson .Paak.

A segunda escolha difícil da noite estava entre Pet Shop Boys, considerados os cabeças de cartaz da noite, e Rema, que com o seu afrobeat conseguiu puxar uma boa parte do público para dançar por entre os poucos pingos de chuva que teimaram em cair. Antes de subir ao palco, o seu DJ Jumbee fez um pequeno set para aquecer a plateia e surpreendeu o público com um trecho de Como Tu, canção de Bárbara Bandeira e Ivandro, e Chakras de Ivandro e Julinho KSD, o que levou o público português nas primeiras filas ao delírio. O momento mais hilariante do concerto foi quando Rema e Jumbee perguntaram ao público como se dizia "booty" em português e depois de algumas tentativas, conseguiram perceber que se diz "bunda", e Rema pediu para que abanássemos a “bunda” várias vezes. Calm Down, que mereceu um remix com Selena Gomez, deu por terminado o concerto que deu para abanar a "bunda".

Daqui em diante a noite seria dominada por St Vincent, Le Tigre, Central Cee e Tokischa. Num dia em que já muitos concertos memoráveis tinham acontecido, o melhor aguardava-nos no final. St Vincent, com a sua guitarra personalizada numa mão e com o público na outra, libertou energia de sobra para conseguir pôr todo o público a saltar, mesmo ao fim de três dias de festival. Um concerto que começou com Digital Witness tinha tudo para ser o espetáculo da noite. O aclamado álbum Masseduction trouxe-nos uma Los Ageless elétrica e uma New York cantada no meio do público, enquanto Daddy’s Home nos trouxe Pay Your Way in Pain e ainda houve tempo para Fast Slow Disco acompanhada de uma plateia conhecedora do repertório de Annie Clark. 

 

Le Tigre, Central Cee e Tokischa juntaram-se à onda e não deixaram o público desmaiar. O rock eletrónico dos nova iorquinos Le Tigre não deixava respirar e, certamente, não deixava que as pernas sentissem o cansaço acumulado de uma edição conturbada pelas condições climatéricas. 

 

 

No palco Porto, via-se muitos fãs a guardarem o seu lugar para verem o rapper britânico Central Cee. Após um pequeno aquecimento com o seu DJ, Central Cee foi recebido com bastante entusiasmo do público e alguns pingos de chuva que não fizeram ninguém arredar pé. Loading, Little Bit of This e 6 For 6 mostraram a razão do seu sucesso nos últimos dois anos. Para o final reservou Doja, que é um dos seus maiores hits até ao momento. 

 

Tokischa, por sua vez, trouxe rap latino para ser dançado à chuva. Entre ritmos perreo e reggaeton, a artista dominicana quase que explodiu o palco com a sua energia. Sempre interativa com o público, tendo saindo do palco para cantar entre as pessoas, ouviram-se os temas Perra, colaboração com J Balvin, Linda e Combi Versace, colaborações com Rosalía. As coreografias com os seus bailarinos também ajudaram à festa noturna. E que bela maneira de encerrar a época da chuva na edição deste ano.