Primavera Sound Porto 2024 – 1º dia: o dia das grandes rainhas

 

O Primavera Sound Porto regressou ao Parque da Cidade nos dias 6, 7 e 8 de junho. O primeiro dia contou com alguns regressos como, Amyl and the sniffers, Mitski e PJ Harvey, e a grande estreia de SZA em Portugal.

 

Os Blonde Readhead, banda formada em New York, veio apresentar o seu novo trabalho, Sit Down For Dinner (2023), para uma plateia bem composta no palco Super Bock. O grupo levou-nos numa viagem pelos seus ritmos de dream pop, shoegaze e noise rock com os temas Snowman, Falling Man e Kiss Her Kiss Her. Vale mencionar que Kazu Makino (vocalista, teclista e guitarrista) usou um Keffiyeh, lenço tradicional palestino, e a sua guitarra ainda tinha alguns autocolantes com o mesmo. Os momentos mais calmos e os mais mexidos proporcionaram um bom serão durante uns cinquenta minutos e foi a calma antes da tempestade eufórica que se seguiria.   

 

 

A banda australiana Amyl and The Sniffers regressou ao festival num palco maior, anteriormente tinham tocado no Super Bock em 2019 e agora tocaram no Vodafone, e com uma plateia bem composta. O grupo deu uma lição de punk rock aos festivaleiros presentes com tudo o que se tem direito: uma energia imparável, músicas para se abanar a cabeça e mensagens políticas. É impossível ficar-se indiferente à atitude da vocalista Amy Taylor em palco que anda sempre de um lado para o outro e até desceu para estar mais perto do público. Ainda falou sobre Gaza a meio do concerto e a importância em informar-se as pessoas sobre o que está a acontecer no mundo neste momento. Freaks To The Front e as novas Facts e U Should Not Be Doing That foram algumas das músicas que fizeram parte do alinhamento. 

 

 

 

PJ Harvey regressou a Portugal e ao festival oito anos depois do seu último concerto e veio apresentar o seu novo álbum, I Inside the Old Year Dying (2023). A artista, um ícone do rock britânico, começou o concerto com as músicas do seu mais recente trabalho e de uma forma suave e mais introspetiva com Prayer at the Gate, The Nether-Edge e I Inside the Old Year Dying. À medida que o concerto foi avançando, reavivou três temas anti-guerra de seguida: This Glorious Land, Let England Shake e Words That Maketh Murder. Para os mais rockeiros trouxe 50ft Queenie e Dress, e, ainda, voltou a tocar Black Hearted Love, pela segunda vez depois do Primavera de Barcelona, que antes disso só tinha sido tocada uma vez em 2009. Um espetáculo de PJ Harvey é sempre composto pela história da sua carreira com mais de três décadas, momentos mais calmos outros mais animados, sobriedade e uma classe inigualável, e assim foi mais uma vez. 

 

 

 

Outro regresso ao festival e ao país foi Mitski, que se estreou no mesmo palco em 2017 e depois passou pelo Vodafone Paredes de Coura em 2019, com o seu novo álbum, The Land Is Inhospitable and So Are We (2023). De 2019 para este ano, a maior diferença, além dos temas novos e respetivo alinhamento, é o seu design de palco que contêm uma plataforma giratória com um jogo de luzes perfeitamente adequado a cada música. Com o aviso de que ia entrar em personagem, a artista trouxe teatralidade ao seu espetáculo pela forma como dançava, a correr atrás de feixes de luz, a meter-se de quatro patas como se fosse um cão e a cada expressão e gesto que fazia. Tudo isto ajudava a ser um concerto mais especial e onde se nota que canta cada nota com a sua alma como se notou em temas como Star, Heaven, I Bet On Losing Dogs e Working for the Knife. Não faltou o hit My Love Mine All Mine que foi acompanhado por luzes brancas, apenas a apontarem para a artista, e o que pareciam ser borboletas a voarem para representar bem a letra da música. A meio do concerto ainda disse que amava os fãs e que “se morresse amanhã ficaria ok!”, portanto pode dizer-se que adorou o público e o público adorou-a pela forma com que sabia e cantava todas as letras. Terminou com Nobody e Washing Machine Heart.

 

Após alguns regressos, chegou a grande estreia da noite com SZA finalmente atuou em Portugal e veio apresentar o seu mais recente álbum SOS (2022). Como artista pop que é, a cantora norte-americana trouxe uma grande produção em palco que contou com um farol, uma passadeira alta, uma bola de demolição e bailarinas. Arrancou logo com alguns dos seus maiores sucessos como Love Galore, Ghost in the Machine (feat. com Phoebe Bridgers) e Broken Clocks. Sem se esquecer dos temas All The Stars (com Kendrick Lamar da banda sonora do filme Black Panther), Drew Barrymore, Low, Kiss Me More (com Doja Cat) e Kill Bill, do mais recente álbum. Um dos momentos mais vulneráveis do concerto foi em Nobody Gets Me, onde entregou a sua voz de corpo e alma a cada letra que cantava. Não se pode dizer que o público a acompanhou sempre em uníssono, pois só se ouvia o público a cantar nas músicas mais conhecidas, mas mostrou-se recetivo ao que estava a experienciar com o espetáculo. SZA é uma das artistas mais interessantes que surgiu nos últimos anos com a sua mistura de R&B, Pop e Hip-hop e o seu concerto mostrou o porquê: uma voz diferente e com ritmos perfeitamente adequados a ela.

 

Para terminar, diretamente do Rio de Janeiro chegou Ana Frango Elétrico que encerrou o palco Vodafone. A artista veio mostrar porque é a nova promessa de “bossa-pop-rock” com “pinceladas de punk e “pós-MPB”, como a própria descreve, e que fomentou nos seus três álbuns, Mormaço Queima (2018), Little Electric Chicken Heart (2019) e Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua (2023), sendo um dos álbuns mais interessantes do ano passado. Os seus ritmos tanto dão para dançar como acalmar, o que se tornou numa ótima escolha para este final de noite. Na sua mistura maravilhosa de géneros diferentes, juntam-se as suas letras queer que tornam cada música ainda mais especial. Ao mesmo tempo, sente-se a sua herança de melodias brasileiras em cada tema. 

 

 

Texto e fotos: Iris Cabaça