Primavera Sound Porto 2024 - 3º dia: nem a carga de água parou a tempestade dos The National
No terceiro e último dia do Primavera Sound Porto 2024, a chuva não quis dar tréguas, mas tal não impediu o público de saltar, cantar e dançar à chuva em alguns concertos. No início da tarde foram os nomes portugueses que trouxeram luz e animação a este dia chuvoso, e ajudaram o público a aguentar até ao final da noite com o regresso dos The National e Arca.
Os Best Youth abriram o palco principal e atuaram em casa com chuva. O duo portuense formado por Catarina Salinas e Ed Rocha Gonçalves veio apresentar o seu novo álbum Everywhen, editado este ano. Não foi um início muito fácil porque o público parecia estar um pouco receoso da chuva, mas depois acabou por ficar mais composto. A voz doce de Catarina Salinas e a guitarra e piano de Ed Rocha Gonçalves ajudaram nisso e tornaram este começo de tarde chuvoso num momento encantador.
Sem qualquer sinal da chuva abrandar, os Expresso
Transatlântico subiram ao palco Plenitude com a mesma energia de sempre
para apresentarem o seu álbum de estreia Ressaca Bailada (2023). Tocaram
temas como Western à Lagareiro, O Gangster (Canção para Dead Combo),
Barquinha e Porque nada tem um fim. A pedido de Sebastião Varela
(“é para dançar, para mandar a chuva embora”) antes de Azul Celeste, o público
nas primeiras filas aderiu e dançou durante um bocado, contudo a chuva não
parou. Infelizmente tudo tem um fim, e depois de mais um excelente concerto do
trio, acabou em grande ao som de Alfama, Texas com Gaspar Varela a fazer
crowdsurfing e com o grupo a mostrar a razão de ser uma das melhores novas bandas nacionais ao vivo.
Os Mannequin Pussy estrearam-se em Portugal, após terem cancelado os seus concertos em Lisboa e no Porto em Outubro de 2023, e chegaram com o seu novo álbum I Got Heaven e uma energia incomparável. A banda de Filadélfia liderada de Marisa Dabice, ou apenas Missy, que é um animal de palco, veio mostrar o melhor do punk rock e noise que faz. No verdadeiro espiríto do punk, ouviram-se mensagens políticas, feministas, anti-racistas e anti-violência, tais como, Missy mandou os Estados Unidos lixarem-se “pelas atrocidades cometidas contra o povo palestiniano”, antes de Loud Bark pediu ao público para gritar “pussy” e em Pigs is Pigs, o baixista Bear (Colins Regisford) cantou com toda a força sobre racismo e violência policial. Ainda se ouviram outros temas como Of Her, Aching, OK? OK! OK? OK! e terminaram com Romantic. Com este concerto poderoso mostraram porque é que são uma das bandas mais excitantes de se ver ao vivo.
The Legendary Tigerman tocou no slot que teria sido de Ethel Cain se não tivesse cancelado o concerto no próprio dia por motivos de doença, e o artista era para ter atuado no dia anterior no palco Vodafone. Óbvio que são artistas bastante diferentes, e quem foi especialmente para ver Ethel Cain provavelmente não ficou muito feliz com esta substituição, mas o artista português acabou por ficar bem no alinhamento do palco Porto por ter atuado a seguido aos Best Youth e Mannequin Pussy e antes de The National. O artista veio apresentar o seu mais recente trabalho, ZEITGEIST (2023), com Sara Badalo a assumir a voz das convidadas do disco. Good Girl, One More Time e Keep it Burning foram alguns dos novos temas que se ouviram. E não pôde faltar a cover de Lee Hazlewood, These Boots Are Made for Walkin’. O esperado mais inesperado acabou por acontecer e até calhou bem.
Os The National voltaram a Portugal após a dose de três concertos, um na Super Bock Arena e dois no Sagres Campo Pequeno, em outubro do ano passado para apresentarem os seus novos dois álbuns, First Two Pages of Frankenstein e Laugh Track (2023). Sendo um concerto de festival, o alinhamento não se focou muito nos álbuns mais recentes e foi mais uma espécie de best of festivaleiro e contou com I Need My Girl, Day I Die, Fake Empire e Light Years. A energia de Matt Berninger também esteve presente como é habitual, e foram várias as vezes que desceu do palco para ir cantar perto do público, no meio, para e nas caras de alguns fãs que se podem considerar sortudos, como, em The System Only Dreams in Total Darkness e Conversation 16. O único contra-ponto de Berninger aqui foi quando fez um discurso sobre apoiar-se Joe Biden nas próximas eleições americanas, o que não fez muito sentido para um concerto em Portugal mesmo na hipótese de haver alguns fãs americanos a assistirem ao concerto. Bryce Dessner não deixou de tecer elogios ao público português, como também já é hábito. Felizmente, a chuva acalmou durante este concerto e, mais uma vez, os The National provaram porque é que são tão acarinhados pelo público nacional e que podem encher salas e festivais sempre que passam por cá.
No palco Vodafone, Arca encerrou o festival com o seu concerto e a primeira vez que não fez um DJ set em Portugal, o que teve as suas vantagens e desvantagens. Pois, por um lado só tocou temas seus, ao contrário dos seus DJ sets onde passa músicas de outros artistas juntamente com os seus, e por outro, o concerto pareceu mais parado do que o habitual. Contudo, o design de palco foi composto por um baloiço, flores e uma cabine de vidro, o que ajudou a trazer o seu universo ao vivo. Nas filas da frente, havia fãs com ramos de flores que depois foram oferecidos à artista. O alinhamento foi feito por alguns dos seus maiores sucessos de KiCk i, KiCk ii, KiCk iii e KiCk iiiii (2021) e outros mais recentes, como, Madre com Oliver Coates e El Alma que te trajo com SAFETY TRANCE. Machote, Calor, Riquiquí, Prada e Rakata fizeram as delícias dos fãs que esperaram até à 1h25min. Ainda houve uma dedicação à falecida SOPHIE, que atuou no festival em 2019, no tema La Chíqui, escrita e produzida por ambas. Terminou o concerto com No Queda Nada e Fireprayer e a prova que era necessário um espetáculo para se dançar neste dia para se acabar com chave de ouro.