Rock in Rio Lisboa 2024 – 1º fim-de-semana: o reencontro não esperado
O Rock in Rio Lisboa regressou nos dias 15, 16, 22 e 23 de junho, mas desta vez numa localização diferente: no Parque Tejo. O festival deixou o emblemático Parque da Bela Vista e decidiu utilizar o local onde se realizaram as Jornadas Mundiais da Juventude em 2023, perto do polémico altar do Papa.
A felicidade do público de voltar ao festival e ver alguns concertos das suas bandas e artistas favoritos parecia ser enorme, tanto que três dos quatro dias do festival tiveram lotação esgotada, mas infelizmente dentro do novo recinto tal felicidade desvaneceu-se. Pois, parecia estar demasiado cheio e a visibilidade dos palcos Mundo e Galp era muito reduzida, principalmente quando enchiam para certos espetáculos, ao contrário do recinto anterior, no Parque da Bela Vista, onde se via bem os concertos de quase todos os lados, mesmo mais longe. Outro problema foram as entradas e saídas demoradas, o que se espera de eventos de grande dimensão, mas devido aos acessos houve filas ainda maiores do que o habitual. Uma parte positiva foram as opções de transportes que havia, algo que se pode contar sempre neste festival, e que este ano com o recinto a ficar longe de transportes públicos e com a recomendação de não se levar carro foi ainda mais necessário.
O primeiro dia, 15 de junho, dedicado ao rock e que contou com Scorpions como cabeças de cartaz, Evanescence, Extreme e Living Colour no alinhamento foi o primeiro a esgotar.
No palco Galp, os Living Colour, banda formada em New York em 1984, veio apresentar a sua fusão de rock, funk, metal e jazz. Infelizmente, o grupo não atraiu tanto público como deveria, mas isso não o impediu de proporcionar um bom serão. Ouviram-se temas como Funny Vibe, Time’s Up e Leave it Alone. Também tocaram covers de Kick Out The Jams dos MC5 e Nothing Compares 2 U de Prince. Terminaram com a emblemática Cult of Personality.
Os Evanescence regressaram a Portugal depois de um concerto no Sagres Campo Pequeno, em 2022, e pela terceira vez ao Rock in Rio Lisboa, onde atuaram anteriormente em 2004 e 2012, e tocaram para milhares de pessoas ansiosas de os verem ou reverem. O alinhamento serviu como um best of da sua carreira desde 2003, ano em que lançaram o álbum de estreia Fallen, até ao mais recente, The Bitter Truth (2021) e teve mais foco no último, mas foi com Fallen que conquistaram o público. A voz de Amy Lee continua a soar tão bem ao vivo como nos primeiros álbuns e é, provavelmente, uma das razões por que tantas pessoas foram ver o concerto. Outra foi para ouvirem os temas de Fallen, tais como, Taking Over Me, Going Under e Imaginary. Perto do final, a magia aconteceu quando Amy Lee se sentou ao piano para tocar My Immortal e antes pediu ao público para cantar consigo, que não foi correspondido maioritariamente pelas pessoas exceto quem estava nas primeiras filas. Por último, a banda tocou a icónica Bring Me To Life para terminar o espetáculo em grande.
Outro grande regresso foi protagonizado pelos Scorpions, os cabeças de cartaz deste primeiro dia, que voltaram depois do seu concerto no Altice Forum Braga em 2023. A banda alemã, que já faz parte da história do festival desde 1985, veio em modo de celebração dos 40 anos do seu disco Love At First Sting (1984). Contudo, o grupo não veio com tanta energia como se esperava e não apostaram tantos nos temas mais pesados e optaram pelos mais românticos como Winds of Change e Still Loving You. Não terá sido o concerto mais memorável dos Scorpions em Portugal, mas serviu para reviver algumas memórias, inclusive com o êxito Rock You Like A Hurricane.
O segundo dia, 16 de junho, foi mais dedicado ao pop e também esgotou. O cartaz contou com nomes como Lauren Spencer Smith, Jake Bugg e Ed Sheeran como cabeça de cartaz.
No Palco Galp, o artista britânico Jake Bugg regressou a Portugal, após o seu concerto no EDP Cool Jazz de 2017, e trouxe um alinhamento que serviu como uma viagem nostálgica aos fãs que o ouvem desde o seu primeiro álbum homónimo, editado em 2012. Sempre de poucas palavras, tirando alguns agradecimentos e apresentações de certos temas, recordou vários dos seus maiores êxitos dos discos Jake Bugg (2012) e Shangi La (2013), onde popularizou o britfolk. Simple as This, Lightning Bolt, Two Fingers, Messed Up Kids e Slumville Sunrise, que arranca sempre passos de dança em qualquer festival, foram algumas das músicas que animaram o público. Do seu mais recente trabalho, Saturday Night Sunday Morning (2021), apenas se ouviu All I Need, que faz parte de um anúncio da Vodafone, e ainda apresentou canções novas que farão parte do seu próximo álbum A Modern Day Distraction, tais como, Zombieland, All Kinds of People e Waiting for the World. Podia parecer um bocado desintegrado do line-up neste dia, mas conseguiu atrair público e proporcionar uma hora de boa música apesar do calor demasiado elevado.
A surpresa do dia aconteceu no Palco Tejo com Lauren Spencer Smith que com uma plateia cheia e ansiosa para assistir à sua estreia em Portugal. A artista canadense nascida no Reino Unido veio apresentar o seu primeiro álbum de estúdio, Mirror (2023). Com a sua voz e letras sobre finais de relações amorosas e de amizades, Lauren Spencer Smith encantou o público ao cantar temas como Fingers Crossed, Best Friend Breakup e Narcissist. Ainda houve tempo para covers de Rumour Has It de Adele, Style de Taylor Swift e Someone You Loved de Lewis Capaldi, o que arrancou algumas reações calorosas do público. Terminou o concerto com Flowers e a certeza que será sempre bem recebida em Portugal.
Uma das grandes razões por que este dia esgotou foi devido ao artista britânico Ed Sheeran, que se estreou em Portugal no Rock in Rio Lisboa de 2014 e depois voltou para dois espetáculos esgotados no Estádio da Luz em 2019, para agora celebrar o aniversário do festival na sua The Mathematics Tour. O artista veio mostrar, novamente, porque é um dos grandes nomes da pop dos últimos anos e apenas com a sua loop station, caixa de ritmos e uma guitarra, em cima de uma plataforma, comandou cerca de 80 mil pessoas no festival. Ed Sheeran entrou em palco a usar uma t-shirt preta a dizer Rock in Rio e logo partiu para Castle on the Hill, sendo que antes partilhou na internet um vídeo a cantar a música no Castelo de São Jorge, e no final explicou resumidamente como iria funcionar o espetáculo com a sua loop station e que é tudo feito ao vivo, gravado e apagado depois para cada concerto ser diferente do anterior. Antes da emocionante A Team, falou sobre a primeira vez que atuou no festival e teve 40 mil pessoas a cantarem a música e como ainda se lembra desse momento, e de seguida partiu para Give Me Love também do primeiro álbum + (2011), e pediu ao público para fazer harmonias, um lado agudo e outro grave, juntamente consigo. Depois, trouxe um mashup de Take It Back /Superstition /Ain't No Sunshine. Num momento mais calmo e antes de tocar Eyes Closed, falou sobre a história da música que é sobre um amigo seu que faleceu e como a maior parte das pessoas já perdeu alguém. Continua a tocar alguns dos seus maiores sucessos, como Thinking Out Loud, a anunciar que quem não soubesse a letra estava no concerto errado, Photograph, Sing, Perfect e Love Yourself, tema que escreveu para Justin Bieber. Para fechar o concerto com chave de ouro, tocou You Need Me, I Don’t Need You, Shape of You e Bad Habits, o que deu para se dar alguns passos de dança. Assim, o primeiro fim-de-semana do Rock in Rio Lisboa deste ano terminou em grande com o concerto de Ed Sheeran, saídas demoradas e críticas ao novo recinto.
Texto e fotos: Iris Cabaça